Foi com pena que lemos ontem o comunicado assinado por João Miguel Lameiras e Bruno Caetano, sobre o evento Coimbra BD deixar de ser organizado por eles. Já não é a primeira vez que constatamos que alguns municípios acham que se pode fazer omeletes sem ovos, não valorizando alguns eventos e todo o trabalho envolvido e desenvolvido, e o potencial de atração de visitantes que esses eventos podem trazer. Parece ter sido esse o caso.
Ao que sabemos, o evento regressará em Setembro, mas conduzido por outras mãos. Cá estaremos para ver e opinar.
Para já resta-nos lamentar a situação e deixar uma palavra de agradecimento à carolice de Lameiras e Caetano.
Transcrevemos aqui o comunicado de ambos, ilustrado por um desenho de André Caetano, realizado para o primeiro poster, não oficial, do evento em 2018.
"Desde a sua criação por iniciativa da Câmara Municipal de Coimbra, em 2016, que temos sido responsáveis pela produção e programação do Coimbra BD. Um Festival que começou de forma modesta, mas que se soube gradualmente afirmar como um evento incontornável do calendário nacional de Banda Desenhada, com diversas editoras a programarem os seus lançamentos tendo em conta as datas do Coimbra BD.
Foram seis edições em que, apesar das grandes limitações orçamentais, que fizeram com que recebêssemos menos por produzir e programar todo o Festival do que receberíamos pela curadoria de uma única exposição noutro qualquer festival nacional, conseguimos trazer ao evento os maiores nomes da BD nacional (demasiados para enumerar) e autores estrangeiros de prestígio internacional (Fabio Celoni, Walter Venturi, Etienne Schréder e r.m. Guéra), e criar uma programação ecléctica com exposições, lançamentos editoriais, sessões de autógrafos, mesas abertas, conversas com autores, sessões de cinema e de desenho ao vivo, desfile de cosplay e, como não podia deixar de ser, feira do livro.
Tanto em termos de público como de qualidade dos convidados e das exposições, a edição de 2020 foi a mais bem-sucedida de todas e aquela que tornou evidente que o espaço da Casa Municipal da Cultura se tinha tornado demasiado pequeno para a dimensão que o Coimbra BD atingiu. Muito importante para o sucesso dessa edição foi o facto de, pela primeira (e única) vez termos tido mais de 6 meses para preparar o evento, por o orçamento ter sido aprovado com a devida antecedência. Infelizmente, nos anos seguintes nem o prometido aumento de orçamento nem a anunciada mudança para o Convento de São Francisco se concretizaram, o que nos levou a ter cada vez menos tempo e menos meios para preparar condignamente um evento com estas características.
Depois da interrupção em 2021 causada pela pandemia de COVID 19, edição de 2022, apesar de ter sido aprovada completamente em cima da hora (cerca de um mês), o que não nos permitiu ter um único convidado estrangeiro, acabou por ser um relativo sucesso, o que nos levou a pensar que a mudança de poder na autarquia não tinha colocado em causa a continuação do evento. Mas a verdade acabou por se revelar bem diferente. A realização do Coimbra BD em 2023 não estava prevista e só os protestos do público (e da oposição) levaram a Câmara Municipal de Coimbra a reconsiderar e a programar o evento para Setembro. Face à ausência de condições mínimas e às diferenças éticas e filosóficas com a entidade que vai assegurar o Festival em 2023, decidimos afastar-nos da produção e programação do Coimbra BD.
Uma vez que não teremos absolutamente nada a ver com a edição de 2023, esta página não oficial do Festival também deixou de ter razão de existir, motivo pelo qual vai deixar de ser actualizada e os comentários fechados. Para qualquer informação sobre a edição de 2023 será melhor contactar a Câmara Municipal de Coimbra, responsável pela organização.
João Miguel Lameiras e Bruno Caetano"
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