terça-feira, 30 de janeiro de 2024

A opinião de Miguel Cruz sobre "Notre Dame de Paris", de Bess e "Touristes à la Havane", de Brenes



Notre Dame de Paris

Mais uma Grande adaptação de uma Grande obra literária por um Grande da BD Franco-Belga – Georges Bess. Tudo em Grande, portanto!

George Bess já nos tinha presenteado com as suas adaptações de Drácula e de Frankenstein, ambos comentados por mim, e veio-nos visitar este ano no Festival da Maia. A adaptação de Drácula constituiu o ponto de partida, de alguma forma fortuita, desta série de trabalhos que tem vindo a realizar, constatado, aliás, o sucesso de cada uma das empreitadas.

A adaptação é longa, estendendo-se por mais de 200 páginas, sendo que – é a minha opinião – a obra de Vitor Hugo merece e precisa deste tratamento, tal como se me afigura adequada a inclusão de longos textos que dão adequada profundidade e coerência narrativa às páginas de belos desenhos, muitas vezes de espaço branco, aberto…

Georges Bess mostra, para nosso profundo prazer, particular carinho pelas duas senhoras da obra: Esmeralda e a Catedral de Notre Dame. Penso que muitos dos leitores e leitoras tiveram oportunidade de apreciar o desenho do mestre em Drácula ou Frankenstein, pelo que não será difícil imaginar o tratamento de uma narrativa muito centrada naquela impressionante Catedral.

O preto e branco é admiravelmente usado para esta narrativa onde a podridão, o abuso, o obscurantismo quase dominam, mas acabam dominados pela dimensão humanista da obra de VH, bem como no tratamento de um conjunto diverso de personagens que nos são, penso eu, bem conhecidas.

Espetacular proeza e mestria gráfica. E é o que há de relevante a dizer. Quando a matéria-prima é desta qualidade, o que um autor melhor pode fazer é dar o seu cunho pessoal e apropriar-se da narrativa para a contar à sua maneira e guiar-nos com os seus olhos. E isso foi conseguido com brio.

Editado pela Glénat, está disponível desde o dia 22 de novembro de 2023 para o mercado francófono.



Touristes à la Havane

Como o título intui, esta é uma BD que relata uma viagem turística a Cuba. Motivo? Um casamento. Um casal, Arturo e Ivannia, decide marcar presença num casamento de um familiar cubano, e vai passar uma temporada na casa de família em Havana.

Durante quase 400 páginas (formato mais reduzido, nos 27x20) vamos conhecendo a vida em Cuba, primeiro através das suas maravilhas turísticas, mas à medida que o autor vai acumulando camadas, começamos a conhecer os problemas (quase) invisíveis por detrás da (quase) harmonia visível para turistas.

Até na própria família, as discussões sobre a vida em Cuba, sobre a família vs as oportunidades, sobre as vantagens e desvantagens de emigrar para os Estados Unidos, sobre a pobreza e os baixos salários, sobre as senhas de racionamento, sobre o exercício da liberdade, têm uma natureza recorrente.

Interessante, esta BD é essencialmente um documentário de viagem. Muito bem estruturada, consegue evitar a monotonia que seria natural face ao número de páginas, é informativa e apresenta-nos uma série de episódios interessantes e curiosos neste cruzamento de turistas com locais, e evita estereótipos. A inspiração, segundo nos é indicado, decorre de uma visita do autor e da sua mulher a Havana.

O desenho do autor, o Costa Riquenho Edo Brenes, é semi-realista, elegante, simples, sem grandes detalhes, mas bem adaptado ao estilo de narração e a um relato de viagem, marcando bem os pontos essenciais.

Editado pela Steinkis, esta é uma BD interessante e refrescante, fora dos “grandes roteiros comerciais”, com uma capa chamativa.




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