As novas aventuras de Bruce J. Hawker encontraram o caminho das livrarias de língua francesa no final do passado mês de abril. Já as “antigas aventuras de” Bruce J. Hawker constituem uma obra-prima da BD franco belga, pelo menos para todos aqueles que gostam de aventuras marítimas, barcos bem desenhados, combates navais, Royal Navy versus Real Armada Espanhola, finais do sículo XVIII, início do século XIX.
Bruce J. Hawker, uma obra do nosso bem conhecido (William) Vance (dizem que esta era a sua obra preferida, eu cá não posso confirmar), com sete tomos publicados entre 1985 e 1996, é agora recuperado para as páginas de uma BD, para o comando do navio Lark, e para uma nova aventura.
Nesta aventura, Bruce e a sua tripulação vão ser confrontados com a história dos cavaleiros templários, há muito tempo desaparecidos. Bruce é um comandante seguro, alguns dos seus homens estão sempre perto de um “motim”, as aventuras em que se envolvem têm contornos estranhos. Agradável de ler, este tomo resume no início o historial de Buce J. Hawker e pode, sem perda de contexto, ser lido independentemente do resto da série, ou se quiserem, da anterior série.
O experiente argumentista Christophe Bec pensou inicialmente em recuperar, com base em notas que lhe foram disponibilizadas pela família de Vance, uma aventura que o saudoso autor estaria a preparar como tomo 8 da série. William Vance nunca chegou a preparar o tomo oitavo, primeiro pelo tempo que teve de dedicar à série XIII, de grande sucesso comercial, e depois pela sua doença (Parkinson). No entanto, Bec acabou por imaginar uma história sua, tentando respeitar integralmente o personagem de Vance.
O desenhador escolhido foi o espanhol Carlos Puerta, dono de um desenho “ultrarrealista”, muito fotográfico, absolutamente fantástico na perfeição, coloração, expressões e detalhe, apesar de acarretar perdas ocasionais de espontaneidade e movimento. O efeito do seu desenho é angustiante e opressivo nos momentos certos (até na capa), e traduz adequadamente a atmosfera pesada que caracteriza a maior parte das páginas, que caracteriza a relação entre personagens. O seu desenho não tem nada a ver com o desenho original da série, e essa foi uma opção – diferente de muitas séries retomadas – que me parece sensata e vencedora.
Uma aventura que retoma um clássico da BD, mas que tem alma própria, gera interesse autónomo, e em que o valor acrescentado por cada um dos autores é positivo. Editado pela Lombard, as opções e risco editoriais são dignos de nota.
Thorgal Saga T.2 - Wendigo
Segundo tomo da mais recente série-derivada de Thorgal: Thorgal Saga, Wendigo revela-se uma boa surpresa, mantendo uma qualidade interessante e uma imaginativa escolha de assunto para um one shot, que caracterizavam o tomo 1 da responsabilidade de Robin Recht.
Para este tomo dois, a aventura é conduzida a quatro mãos: o bem conhecido Fred Duval (em Portugal tivemos recentemente editado Nevada, também de sua autoria) no argumento e o gradualmente cada vez mais conhecido Corentin Rouge (autor da série Rio e co-autor de Go West Young Man, ambos editados no nosso país), que esteve em Portugal no ano passado.
Pretendendo ser, cronologicamente, uma sequência do tomo 13 – Entre Terra e Luz - e anterior ao tomo 14 - Aaricia – Wendingo tem início com a viagem de retorno do continente americano de Thorgal e da sua família. Atacados por um cardume de monstruosos peixes, os nossos heróis são recolhidos por uma tribo nativa americana que, para salvar Aaricia, gravemente ferida, obriga Thorgal a enfrentar uma outra tribo inimiga e mil outros perigos, entre os quais Wendigo, monstro devorador de homens.
A história é fantasiosa, mas interessante e coerente, respeitando todos os elementos que fizeram de Thorgal uma das séries de maior sucesso da BD Franco-Belga. O desenho e a cor são, também, fiéis aos da série mãe, sendo que o desenhador Rouge aproveita para nos apresentar vários “grandes planos”, paisagens espetaculares e cenas de ação notáveis, como testemunho de uma desenvoltura técnica e virtuosismo.
Quanto a Thorgal, este continua a ser a personagem central, um herói inteligente, combatente feroz, dotado de uma resistência física e de uma força anímica notáveis.
Editado pela Lombard, companhia detentora dos direitos do Viking Thorgal, este novo opus de uma já longuíssima série – ou melhor, conjunto de séries – não envergonha os melhores álbuns da dupla Van Hamme e Rosinski, e constitui uma leitura agradável.
O sucesso da Thorgal Saga tem sido grande, razão pela qual a editora já anunciou o terceiro tomo, que será desenhado por Surzhenko. Aparentemente o argumento será da responsabilidade de Yann. Se assim for, será recomposto o duo responsável pela série derivada: A juventude de Thorgal. Aguardemos para ver.
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