sábado, 22 de junho de 2024

A opinião de Miguel Cruz sobre "O Inferno de Dante", de Gaëtan e Paul Brizzi - edição Arte de Autor e A Seita

 


Uma das “visitas” que aconteceram no Maia BD foi Gaëtan Brizzi. Juntamente com o seu irmão gémeo Paul, Gaëtan tornou-se figura de referência do cinema de animação internacional. Para além disso, dedicaram-se também à BD a duas mãos. Escreveram e desenharam algumas, poucas, obras, todas elas interessantes, creio que todas elas a preto e branco – recordo-me com particular entusiasmo de “La cavale du Dr. Destouches” em que apenas assumiram o desenho.

Mais recentemente ganharam um merecido destaque com duas adaptações literárias: “Don Quichotte de la Manche”, a mais recente, em quase duzentas páginas de uma abordagem interessantíssima a uma obra conhecidíssima, com inovação e qualidade gráfica inegável. “O Inferno de Dante” a anterior, teve bom sucesso comercial, numa adaptação também ela imaginativa, com laivos de modernidade, e uma abordagem gráfica de tirar o fôlego a qualquer comum mortal.

O conteúdo literário do exercício é limitado quando comparado com a obra base e mesmo com outras adaptações à banda desenhada. O objetivo é claramente permitir a visualização do conteúdo da obra de Dante, uma espécie de adaptação cinematográfica que conceda a conhecedores da obra de Dante a possibilidade de reconhecer o universo criado, e aos novos leitores a capacidade de estar perante imagens marcantes e duradouras, formatando um imaginário.

Nove círculos do inferno visitados em pouco mais de 150 páginas é um exercício dantesco...(ui.) que os autores assumem com risco e a preocupação de não ultrapassar a fronteira da vulgarização. Adaptação cuidada no que é aproveitado como fio narrativo, adaptação exuberante no que foi a liberdade de criação gráfica.

Adaptar a Divina Comédia de Dante Alighieri tem todos os condimentos para “enervar” alguns puristas, mas a boa receção comercial e a edição cuidada do editor Daniel Maghen mostram que é possível fazer uma adaptação conseguida, moderna e não literal, procurando atrair diferentes tipos de leitores para uma narrativa escrita na Idade Média, e sem ter de incluir um aviso aos leitores para abandonarem toda a esperança…(ui).

Não será uma BD das mais convencionais que o/a leitor/a poderá ter nas mãos, sendo que a minha primeira recomendação é pura e simplesmente: percam-se nestas imagens/gravuras/representações qual pecado da gula…(ui). Vale a pena!

A edição é uma parceria da Arte de Autor e a A Seita.







Sem comentários:

Enviar um comentário