Normalmente falo aqui das BD que me agradaram, muito ou pouco, mas que apresentam qualidades claras que me permitem dar uma opinião positiva. Faço-o com muito poucas exceções.
Normalmente as “entregas” do duo Roger Seiter/Régric, apesar de raramente atingirem o pico de qualidade do grande Jacques Martin – O Mistério Borg, O Furacão de Fogo, A Grande Ameaça, etc – são a meu gosto. Um argumento interessante, um mistério com contornos complexos e bem estruturados para uma interessante aventura passada ali pela década de 50 do século passado, um desenho linha clara de qualidade, com muito detalhe, pranchas bem organizadas e bonitas, um bom ritmo narrativo, uma referência clara ao estilo de desenho do criador, boas cores, belas viaturas, aviões, navios e comboios de época.
Já tive oportunidade, mais de uma vez, de estar na presença dos dois autores, simpáticos, conversadores – mais um que o outro – profissionais, disponíveis.
O leitor/a leitora, nesta altura, e depois de tanto tom apologético, perguntar-se-á: o que correu mal com este tomo 36 da famosa série criada em 1954, e que tanto destaque adquiriu na época das famosas revistas francesas de BD, mas também da nossa revista Tintin em português?
Sobre o desenho, não tenho muito a dizer: a qualidade, o trabalho, a recolha de informação a composição de página, os detalhes, tudo isso está lá, e muito bem. Atrativo para o meu gosto, mesmo se os desenhos de rostos do autor me parecem algo rígidos. Em resumo, gosto.
Os diálogos têm a qualidade habitual, adequados à situação e à época – há apenas um detalhe que muito no princípio me chamou a atenção: em duas páginas quase consecutivas, a mesma personagem expressa opiniões contrárias – mudando aliás o tom de otimista para pessimista. Estranhei, mesmo se num caso a bebida estivesse a suportar o diálogo.
A história parece ser bem estruturada, apesar de algum sentimento de déjà vu. Lefranc acompanha a sua amiga Léa numa regata, que vai atravessar uma zona de ilhas que fazem agora parte da Indonésia. Ao mesmo tempo, interesses económicos e mineiros neerlandeses apostam na autonomia de gestão de um arquipélago apoiando o regente desse arquipélago, contra o sultão, menor de idade, e em prisão domiciliária. Quando uma tempestade apanha o veleiro de Léa e os sobreviventes acabam por ir parar à ilha onde o sultão está detido, Lefranc vai, naturalmente, procurar ajudar o jovem sultão.
A base da ideia é boa, e o início da BD agrada. O problema, na minha opinião, é que algumas linhas condutoras desta história são despachadas em alta velocidade e simplificadas de uma forma que não é fluida, prejudica a credibilidade, e torna-a por vezes insípida. Diria que a opção teria sido ter dois tomos para concluir esta aventura. Eu sei que a política editorial da Casterman no tocante a Lefranc não é essa, mas ter-se-ia ganho qualidade.
Lê-se bem, não é uma má BD, mas creio constituir uma clara oportunidade perdida.




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