Prémio BD FNAC France Inter 2026 (BDs de 2025)
Por Miguel Cruz
Após a atribuição do prémio de BD por parte da ACBD – Associação de Críticos e Jornalistas de BD -, no âmbito do outro “prémio” que tenho vindo a acompanhar, foi agora anunciada a lista dos 5 finalistas. Desta vez (ao contrário da outra referida), os 5 finalistas coincidem com os que eu acharia provável serem os vencedores. Um pouco mais satisfeito estou, diria Yoda.
Temos então, e sendo o último de que tive oportunidade de apresentar o meu comentário, Soli Deo Gloria de Jean-Christophe Deveney e Édouard Cour (Ed. Dupuis), uma história muito humana, pela glória de Deus, de dois gémeos Hans e Helma, a quem o amor pela música une e eleva a um destaque, mas também separa e caba por destruir.
Para além disso, e como primeira obra de BD de Sixtine Dano, temos Sibylline, Chroniques d’une Escort Girl (Ed. Glénat), que narra com particular sensibilidade, mas tocando vários aspetos societários relevantes, sem juízo de valor, mas com olhar crítico, a vida dupla de escort girl da jovem Raphaelle.
O primeiro tomo de Les Gorilles du Général (Septembre 1959) de Julien Telo e Xavier Dorison (Ed. Casterman), que nos apresenta uma história romanceada dos 4 guarda costas do General de Gaulle, neste caso na fase em que o país está dividido sobre a guerra da Argélia, e o General se prepara, sob várias ameaças, para anunciar a sua solução.
O quarto selecionado para finalista – seguindo a ordem que foi anunciada - Silent Jenny de Matthieu Bablet (Ed. Rue de Sèvres - Label 619), é uma história de esperança, simbolicamente de procura de ADN de abelha, num mundo destruído e estéril, com domínio corporativo, e com a população concentrada em cidades móveis. Jenny é a personagem central, determinada e uma força da natureza (???).
E finalmente Ces lignes qui tracent mon corps de Mansoureh Kamari (Ed. Casterman), uma BD que me impressionou fortemente, de natureza autobiográfica, sobre a vida das mulheres no Irão, a sujeição à lei Islâmica e o pleno poder dos homens sobre as mulheres. Uma obra que achei particularmente corajosa, de uma grande intensidade, que nos choca pela diferença cultural, tratada de uma forma muito sensível, mas curiosamente positiva, baseada na esperança e no crescimento.
E agora? Eu não sei, não vou dizer que não gostaria de estar na pele do júri (gostaria, pois!), mas a escolha não é fácil. Eu gostei bastante destas 5 BD. Diria, tentando estabelecer uma escala que não será a do júri, certamente, que Silent Jenny tem muito para agradar a um vasto público, mas é a que menos prefiro das 5, pela extensão e pelo ocasional afastamento à personagem central. Depois, em relação a Les Gorilles du Général, um desenho magnífico e uma história muito bem tecida, mas mais clássico. Diria que me parece provável que não seja este o caminho escolhido. A pertinência dos temas tratados e a inovação da obra? Será por aí? Não nos podemos esquecer que um dos objetivos do prémio é “divulgar a BD junto do grande público”. Enfim, fácil não é (repito-me). Então se excluirmos Les Gorilles du Général, uma das minhas leituras essenciais de 2025, divido-me entre Soli Deo Gloria e Ces Lignes qui tracent mon Coeur, as duas que colocaria em primeiro lugar. Eu votaria pelo primeiro, que é impressionante, mas reconheço que o segundo é muito marcante.
Teremos de esperar por dia 7 de janeiro para saber. Qualquer que seja o vencedor, todas as 5 são leitura recomendada. Sem dúvida.





Sem comentários:
Enviar um comentário