Le Serpente et le Coyote
Tem vindo a ser, muito recentemente, publicada em Portugal, pela Gradiva, a série “Tango” de Philippe Xavier e Matz (de seu nome Alexis Nolent). Com desenho de Xavier e argumento dos dois autores, esta série tem feito um bom sucesso, renovando um género que ficou conhecido, na revista Tintin portuguesa, através de séries como “Bernard Prince” ou mesmo “Bruno Brazil”.
Matz já tinha trabalhado, com bons resultados, no argumento de uma interessante série, um thriller muito bem construído chamado “Le Tueur, onde alguns elementos que fariam o sucesso de “Tango” já se encontravam presentes. Dessa série, o público português pôde ter um vislumbre em 2011, através da coleção “Os Incontornáveis da BD” (Asa com o Público), com uma edição de dois tomos de “O Assassino”.
Dos dois autores foi agora editada, na coleção signé da Lombard, a BD “A serpente e o Coiote”, um one shot muito interessante e que merece forte recomendação. Trata-se de uma aventura com alguma ação, muita adrenalina, bastante suspense, perseguições, dilemas éticos, excelentes diálogos e personagens particularmente desagradáveis, com exceção do Coiote… wouiif.
A premissa base da história encontra-se no nascimento, nos Estados Unidos da década de 70, do programa de proteção de testemunhas. É um ponto de partida interessante e inteligente, pois na sua origem, a ideia deste programa inspirava sentimentos diversos e tomadas de posição conflituantes.
Joe – nome fictício – percorre rotas desérticas dos Estados Unidos, em movimento constante, na sua autocaravana, sabendo que é ativamente procurado por assassinos contratados, e tendo de entrar em contacto periodicamente com um Marshall que lhe foi designado no âmbito do programa. Joe é uma serpente dos grandes espaços, nunca parando, nunca se escondendo, mas sempre atento aos perigos.
Ao longo do percurso, vamos conhecendo a personalidade de Joe, muito através da sua relação com um cão que recolhe um dia, e que afinal é, pelo menos, meio coiote. E relembro, o coiote é, ao longo de toda esta dura história, a única personagem simpática…
Ficamos também a saber qual a história subjacente à situação de fuga e proteção, pois “Joe” era um verdadeiro “barão” no negócio da droga, desde a década de 50 (século passado), e o seu testemunho é essencial para a condenação de um grupo de que fez parte.
A história, como referi, é muito cativante, realista, e com excelentes diálogos. A personagem principal desta aventura (essencialmente narrada na primeira pessoa) vai-se tornando mais humana através da sua relação, bem trabalhada, com um conjunto de personagens secundárias interessantes. A violência, inevitável, é muito bem tratada, com sequências em que ela se torna evidente, mas nunca diretamente visualizada, num exercício bem pensado de sugestão.
Os desenhos de Xavier são excelentes, fazendo-me lembrar, por várias vezes os desenhos, ambientes e “toque mágico” de William Vance. As sequências iniciais e outras diversas em espaço de deserto, bem como numa loja de animais mais próximo do fim, são absolutamente excecionais. Li e adquiri a versão a preto e branco, mas tendo longamente folheado a versão a cores, posso afirmar que com ou sem cores, esta BD é tão apelativa à vista como é interessante de leitura. Aqui ficam as duas capas.
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