Entrevistámos Alix Garin quando veio a Portugal em 2024 (entrevista já publicada no Juvebêdê) e o tema central foi precisamente esta obra: Impenetrável, que estava a sair no mercado francófono nessa altura.
Sabíamos que o tema não era fácil, que era um testemunho muito íntimo e pessoal sobre um tema quase nada falado na sociedade, o vaginismo, um transtorno do foro sexual, que torna a penetração impossível. O que descobrimos com esta leitura, da versão portuguesa, que chegou em 2025 pelas mãos da ASA, foi que este livro é muito mais do que isso. Impenetrável, é um testemunho ímpar, honesto, que expõe a autora na sua intimidade, com o objectivo de ajudar outras pessoas que tenham passado ou estejam a passar pelo mesmo.
Pelas suas palavras:
"Quis dar esperança a outras mulheres que sofrem do mesmo, dando o meu exemplo. Porque, como é um assunto sobre o qual não se fala, quando isso acontece a alguém, não há certezas de existirem outras pessoas a viver com o mesmo problema e sentimo-nos sozinhas. Portanto é muito importante dar a palavra a estes assuntos tabu, dar-lhes visibilidade. Para que as pessoas que sofrem da doença saberem que o seu sofrimento é legítimo e que não são as únicas a viver essa situação. É saudável que se possa falar destas coisas. Ajuda a ultrapassar uma fase menos boa. E foi por estas razões que tive vontade de dar o meu testemunho em livro."
Alix Garin sofreu de vaginismo durante dois anos e para se curar, precisou de ajuda clínica e psicológica, mas esbarrou em múltiplos obstáculos, como as obrigações, as normas, o passado. Foi um longo caminho de reconquista do seu corpo, do desejo e de se encontrar a si mesma. Ao expor o seu problema, a autora revelou as várias consequências físicas e emocionais, a solidão, o sentimento de culpa, o constrangimento, a falta de coragem em alguns momentos, a sensação de estar a fracassar e a arruinar uma relação, o estar aquém das expectativas sociais e do seu parceiro.
O título tem um duplo sentido, não só pelo tema da penetração, mas porque é um tema tabu da sexualidade feminina, mas que é necessário falar, para que muitas mulheres possam ser ajudadas e muitas relações amorosas sejam recuperadas e bem sucedidas. Caso contrário, terão danos irreparáveis. É por isso que Alix Garin também vai revelando todas as suas tentativas, os vários especialistas que consultou, o que não resultou e o que resultou, para que outras mulheres possam ter essa informação disponível e conseguirem enfrentar os seus bloqueios.
Mas, como dissemos, o livro é muito mais do que apenas sobre o vaginismo. É uma narrativa muito arrojada, muito intimista, de grande reflexão sobre o corpo, o desejo, a sexualidade e, no final, sobre o sentimento maior, o amor. Alix Garin apresenta-nos um testemunho honesto, quase confessional, com todas as suas fragilidades, mas também com toda a sua força de vencer e a sua positividade e humor.
Um extraordinário livro de banda desenhada, que para além de tudo isto ainda tem desenhos incríveis, com uma paleta de cores muito bem utilizada e um ritmo de leitura muito fluído. A expressividade dos desenhos de Garin aqui é perfeita e fundamental, para traduzir uma enorme variedade de emoções presentes na história.


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