O Caderno Azul, de André Juillard (1948-2024), foi o álbum vencedor, em 1995, no Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême. Esta edição da Devir faz parte da colecção Angoulême, lançada em 2025 pela editora, que reúne oito obras vencedoras. No entanto, este livro é um díptico, pois ao título "O Caderno Azul" junta-se outro título "Depois da Chuva". São histórias independentes, mas que têm algumas personagens que se repetem.
Pessoalmente gostámos mais da segunda história, "Depois da Chuva", mas ambas têm o traço e o estilo inconfundível de Juillard, um dos nomes grandes da banda desenhada europeia.
A primeira história centra-se em Louise e Armand. No momento em que Louise está a sair do banho, nua, Armand encontra-se dentro de um comboio, parado. Armand olha para a janela de Louise, sem cortinas e vislumbra-a. A partir daí fica obcecado e inicia um jogo de perseguição/sedução. Louise não fica imediatamente convencida, mas acabam por relacionar-se.
O cenário deste romance é a cidade de Paris, e aquilo que ao início nos parece apenas um romance à primeira vista, acaba por se tornar mais complexo. Isto porque o autor leva-nos a duvidar dos reais acontecimentos quando nos revela a mesma história, através do olhar de outras personagens. A partir daí já não temos a certeza do que aconteceu, se foi ou não verdade e se foi, não podemos provar a inocência dos seus intervenientes.
O ambiente, as ruas, tudo desenhado de forma exímia por André Juillard, assim como as personagens, as curvas femininas, a aura de sensualidade, sempre presente. Tudo contribui para acentuar a atmosfera envolvente e de mistério.
Quanto à segunda história, é de novo uma história de amor e mistério, com um ritmo um pouco mais acelerado do que a anterior. Algumas das personagens repetem-se, apesar das histórias serem completamente independentes. Depois da Chuva tem um pouco mais de acção, uma relação de amor que termina mal, um mistério, um crime. Aqui o tema é mais pesado, o criminoso anda à solta e o perigo está presente. Já dissemos que gostámos mais desta história, onde no mesmo ambiente urbano, Juillard nos apresenta uma narrativa mais intensa, com várias personagens, algumas das quais nos conseguem surpreender.
Aconteceu-nos, porém, uma coisa curiosa. Encontrámos aquilo que nos parece um erro. Tem a ver com a idade de uma criança, que quando achamos que a criança deveria ter oito ou nove meses, aparece já com perto de quatro ou cinco anos. Julgámos ter percebido mal e voltámos atrás na história três vezes e de todas elas ficamos com a mesma sensação de erro. Será? Ou fomos nós que percebemos mal? Gostaríamos de saber a vossa opinião.




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