Uma semana depois de ter terminado mais uma edição, conseguimos enfim fazer com mais clareza uma espécie de balanço da Comic Con Portugal 2021. É certo que já muito foi dito e escrito, mas cada um fala por si, das suas próprias experiências.
Sabíamos que devido à pandemia e a todas as novas regras e condicionalismos, que esta edição não iria ser pêra doce e aí há que tirar o chapéu à organização, por ter levado avante a realização do evento, pois provavelmente seria catastrófico cancelar.
Máscaras não seriam problema, até porque pessoal com máscaras dos seus heróis é o que não faltariam e este ano não foram excepção e encontrámos muito bons cosplayers. Porém, a questão dos certificados, testes negativos, fluxos de entrada e de saída, cortaram um pouco da magia do evento e criaram alguns constrangimentos, principalmente no primeiro dia, onde a organização estava ainda a afinar agulhas. Verdade seja dita que aí a segurança teve um papel fundamental, cumprindo zelosamente a sua tarefa, mas sobre segurança e acessos, já lá iremos.
Mas o pior não foi isso, a diminuição de público estava à vista de todos e o COVID fez ainda mais estragos, pois também devido a estas incertezas com a pandemia impediram a vinda de algumas personalidades, julgamos nós, tendo sido notória a ausência de grandes marcas que costumam ter uma presença assídua e a falta de investimento de algumas que lá estiveram. No caso da área gaming, por exemplo, esteve anos luz do que costumava ser. Quanto ao espaço exterior que rodeava o Altice Arena e mesmo no interior, as experiências que as marcas proporcionaram pecaram pela falta de originalidade e estiveram longe do impacto dos anos anteriores.
Mas a nossa especialidade é a Banda Desenhada e vamos então ao que realmente nos interessa e que em todos os dias do evento fomos dando notícias do que se passou e passava nesta área. Muitos dizem que o mundo dos quadradinhos é o parente pobre da Comic Con, quando devia ser o mais forte, por lhe ter dado o nome, mas talvez pela razão do tipo de público que vai à Comic Con isso aconteça. Não vamos aqui focar-nos nessa quezília, até porque já o escreveu e bem o Hugo Pinto no seu blogue Vinhetas 2020. O que nos interessa é a adequação do tipo de autores e ilustradores ao tipo de evento. E aí é que está a questão fundamental. Contra nós falamos porque este ano talvez tenha sido um dos melhores anos no que toca a grandes nomes da BD e tivemos a felicidade de privar com todos eles, assistir aos painéis e ter conseguido autógrafos (pena foi que Paco Roca por doença e Matthieu Bonhomme tenham cancelado a sua participação). Mas sejamos francos. A maioria dos autores presentes são desadequados, excelentes para nós fãs desta área BD, mas não para este universo do que chamam a cultura Pop. Serão extraordinários para o Amadora BD, para o Festival de Beja, mas a grande maioria dos visitantes da Comic Con não conhecem, nem sequer sabem que tais autores existem. Quem fica nas filas dos autógrafos são sempre os mesmos militantes que encontramos em festivais da especialidade. Se isso se verifica nas filas dos autógrafos, então nos painéis com os autores, não é de estranhar que estivessem às moscas.
Tivemos o grato prazer de apresentar o painel com o extraordinário Miguelanxo Prado e contámos 23 pessoas. Deve ter sido o recorde. Nos restantes que assistimos estavam sempre à volta de cinco pessoas e confessamos que chegámos a sentir vergonha alheia. Com que imagem ficam estes grandes nomes dos fãs portugueses? Os fãs só os viam na hora dos autógrafos, mas nunca nos painéis. E porquê? Porque em primeiro lugar os painéis decorriam em simultâneo com os horários de autógrafos de outros autores e então a escolha recaía sempre em tentar conseguir um desenho e falhava-se sempre na participação de uma conversa com um autor. Há que encontrar uma solução para isto, que poderá passar por realizar sessões de autógrafos depois de cada apresentação/painel e onde deveriam ser distribuídas senhas prioritárias aos fãs que tivessem assistido. Seria assim uma forma de ter os auditórios mais preenchidos e de deixar nos autores uma melhor imagem dos seus fãs portugueses, que não são apenas "caçadores" de desenhos. Aqui fica uma sugestão que é a disponibilidade para visualização no site da Comic Con das várias horas gravadas com os autores nos painéis e porque não enquanto decorre o painel conversa, esta passar em directo no Facebook e Instagram da Comic Con, estando assim disponível para um auditório mais vasto?
Mas não é só isso. A área reservada à BD é sempre atamancada, como se fosse a marquise do anexo de uma boa casa. Na verdade, não havia sequer área da BD, havia apenas umas mesas corridas para os autógrafos, no pavilhão que albergava o Geek Market. Nunca foi ouvido qualquer anúncio a informar que estaria a decorrer o painel X ou Y e os painéis aconteceram quase sempre num auditório com boas condições, mas que ficava distante e muito escondido.
Até o extraordinário painel do Filipe Melo e Juan Cavia (os recordistas das filas de autógrafos), que aconteceu no maior auditório de todos e foi, provavelmente um dos melhores momentos e mais bonitos desta Comic Con, esteve às moscas.
Por tudo isto, achamos que a organização tem de repensar mesmo esta área da Banda Desenhada. De notar a falta das editoras de BD e apenas a Fnac e a loja da própria Comic Con tinham livros à venda de alguns autores presentes. Destaque ainda para o Clube Tex Portugal presente com um espaço e uma revista exclusiva para esta Comic Con Portugal, onde aproveitou a presença de um dos autores de Tex, Michele Benevento.
Bem, dissemos que voltaríamos ao tema da segurança e cá estamos nós para relatar o que nos pareceu absurdo e surreal. No segundo dia, quisemos assistir à conversa com Álvaro Martinez Bueno, talvez o desenhador que mais estava em consonância com o público da Comic Con, uma vez que o seu trabalho passou já pela DC Comics e pela Marvel. No entanto, até mesmo esse painel não teve praticamente ninguém. E a nós que até queríamos ter assistido desde o início, foi-nos vedada a entrada. Incompreensivelmente, a segurança tinha ordens para não deixar passar a imprensa. Oi? Como fazemos para fazer a reportagem ou mesmo só assistir? Incredulidade, explicações, revolta, nem mesmo o responsável da organização conseguia demover a segurança. À sua responsabilidade lá conseguimos entrar, mas perdemos metade da interessante conversa com o ilustrador. No último dia, entrámos para assistir ao painel de Ralph Meyer (mais uma vez estávamos apenas cinco pessoas) e aí fomos impedidos de tirar fotografias. Mais uma discussão com a segurança e viemos a constatar que quem tivesse credenciais verdes da imprensa estava impedido de entrar em inúmeros auditórios e impedidos de fazer o seu trabalho!!! Mas isto apenas no 4.º e último dia do evento. Este não foi um erro só da segurança, pois cumpriam um pouco baralhados a isto que aconteceu, mas foi um erro da organização? Da comunicação interna? Era mesmo assim, mas não em todos os dias? Quem colocou e deixou passar o primeiro ponto do painel à entrada da sala das Normas Acesso Auditório e como podem ver na imagem que é "Entrada interdita a Press (credencial verde)? Não sabemos se foi assim estabelecido ou se foi um engano, mas queremos acreditar que foi um engano. Só queremos é relatar esta situação para que para o ano não se repita. Porque este impedimento de acesso à imprensa não foi coincidente com a forma com que fomos tão bem tratados desde sempre e no início dos vários momentos até chegar ao dia 1 desta Comic Con de 2021. E de referir este ano com uma sala de imprensa com óptimas condições para trabalhar. Não entendemos onde foi a falha, mas a equipa da comunicação aqui deverá ter as suas responsabilidades, uma vez que nunca esteve presente nestes momentos e falhou também no agendamento de entrevistas solicitadas atempadamente, apesar de termos tido o cuidado de relembrar várias vezes.
Aliás, todas estas nossas opiniões são no sentido construtivo e não para alimentar maledicência. Somos fãs deste evento e muito nos custa ler críticas e mesmo insultos injustos e sem sentido aos organizadores. Continuam a existir "supostos" fãs que nunca perdoaram a saída da Comic Con de Matosinhos para Oeiras e, agora para Lisboa. E este ano, o local escolhido foi excelente, com as vertentes indoor e outdoor, a funcionarem muito bem. Os transportes, o acesso ao evento, as casas de banho, a alimentação, a limpeza, tudo impecável ou não fosse no Parque das Nações. E sentiu-se imenso o cuidado e a preocupação da organização com todos os aspectos de segurança por causa da pandemia e as restrições, para que os visitantes se sentissem confortáveis e à vontade, mesmo com todas estas condicionantes.
E o público na sua maioria, que nestes quatro dias visitou a Comic Con, estava feliz por voltar a ser possível usufruir deste evento, contactar com os seus ídolos, encarnar as suas personagens favoritas.
Houve espaços que melhoraram até! A Artist Alley, por exemplo, era um espaço agradável, com as mesas dos artistas separadas e sem estarem em cima umas das outras. Em conversa com alguns dos artistas, estes estavam contentes com o espaço e felizes com os resultados.
Vamos focar-nos no lema "A new hope" e termos esperança que para o ano tudo melhore, principalmente esta pandemia que muito condiciona este tipo de evento.
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