L’ Oeil du Marabout
Passada num campo de refugiados no Sudão, esta Banda Desenhada bebe da experiência do seu autor, Jean-Denis Pendanx, que esteve na região, ao serviço de uma ONG para animar ateliers de desenho.
Após uma longa separação, a pequena Nialony vai para o campo de refugiados de Bentiu, onde reencontra os seus pais e o seu irmão Georges. O reencontro é feliz, claro, mas os sentimentos são limitados por preocupações, sofrimento, pobreza, medo… (na capa encontramos Nialony e o seu irmão Georges). Não há festejos.
Ao longo desta BD, a jovem que assume o papel central de testemunha de uma realidade terrível e sofrida, percorre o campo de refugiados, o que nos permite conhecer algumas interessantes personagens, forma de organização, riscos e ameaças, e ainda um marabu africano (ou marabuto), um pássaro africano, um pouco descarnado, sério e pouco animador.
A determinada altura, e apesar de nunca sentirmos a nossa jovem em grande perigo, o autor aborda, de forma crua, o tema do rapto dos jovens habitantes dos campos de refugiados, seja para trabalho escravo, seja para engrossar os números de crianças-soldados.
Graficamente, os planos, os enquadramentos e as perspetivas são muito bem-adaptadas ao objetivo desta BD – dar-nos uma noção do ambiente geral do campo. O desenho realista é de qualidade, e as cores são acastanhadas, de terra e lama.
Ao nos apresentar uma realidade que nos está relativamente longe – não tanto geograficamente, mas mais culturalmente – Pendanx presta-nos um serviço importante, e permite-nos uma leitura verdadeiramente enriquecedora. Sem nos querer doutrinar e sem clamar por qualquer necessidade de intervenção, o autor encontra um tom informativo e correto para abranger um número alargado de leitores. Editado pela Daniel Maghen.
Havana Connection
Lucien Rivard vai chegar, em 1956, à Cuba do regime do déspota Batista, que sobrevive à custa do jogo, da relação com interesses Norte-Americanos, e de uma corrupção generalizada. Rivard, de origem Canadiana, chega a Cuba para tomar conta de um negócio de jogo florescente, mas também com o objetivo de gerir algumas atividades muito pessoais, associadas ao tráfico de armas e de drogas.
Para trás Lansky deixa vários problemas relacionais com alguns perigosos associados. Em Cuba vai cruzar-se com o bem conhecido Meyer Lansky, o financeiro das máfias Norte-Americanas, e mais alguns outros infelizmente célebres líderes mafiosos.
O seu encontro com uma bela e rica viúva, que detém uma das maiores explorações agrícolas do país, e mais tarde o cruzar de caminhos com um grupo de revolucionários liderados por um então pouco conhecido Fidel Castro, vão constituir dois momentos marcantes na experiência Cubana de Lucien Rivard.
Os também “Quebecquois” Michel Viau (argumento) e Djibril (Desenho) vão relatar com muito detalhe, credibilidade, e evidente trabalho de recolha, todo o ambiente pré revolução cubana, bem como a tomada de poder por Fidel Castro, e ainda os meandros mafiosos que suportavam Batista. Muito interessante e realista.
Ficamos também a conhecer a importância que Rivard e o seu tráfico de armas tiveram para a revolução. No final da BD, um dossier histórico permite percorrer os detalhes de algumas das personagens centrais, desde Rivard a Ernesto Che-Guevara.
O desenho realista é excelente, tal como os detalhes históricos e de época. Ficam aqui os parabéns a este desenhador habitualmente associado à Marvel. A narrativa, já o referi, é viva, historicamente detalhada, cuidadosamente realista, criando protagonistas romanceados para melhor colocar em evidência acontecimentos, personagens e detalhes históricos que sabemos reais. Uma edição cuidada da Glénat, com mais de 220 páginas, a que acresce um dossier final de 16 páginas.
Quer a realidade sudanesa, quer a evolução do regime cubano do ditador Baptista para o regime de Fidel Castro parecem proporcionar leituras interessantes e, pelo menos a primeira, surpreendentes
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