quarta-feira, 17 de abril de 2024

A opinião de Miguel Cruz sobre "Wild West 4: La Boue et le Sang", de Lamontagne e Gloris e "Lebensborn", de Maroger

 

Wild West 4: La Boue et le Sang

Wild West é uma série de que já aqui falei. Chegados ao tomo quatro, considerei que valeria a pena reforçar o reconhecimento da qualidade da série, e piscar o olho à continuação da sua publicação em Portugal – a Ala dos Livros, em 2021 e 2022 editou os dois primeiros tomos.

Nesta série vamos percorrendo o oeste selvagem, testemunhando alguns momentos “chave” da “conquista do Oeste”, incluindo o choque entre americanos nativos e o progresso representado, desde logo, pela progressão do “cavalo de ferro”.

Várias histórias vão-se cruzando ao longo destes 4 tomos, com os autores a usarem com mestria um conjunto de personagens míticos da história do Oeste como base para a sua realista narrativa ficcionada. Destas personagens sobressaem: Wild Bill Hickok; Calamity Jane; Charlie Utter; Bass Reeves (que faz a capa do tomo 4); e Crazy Horse. Ah, e Jolly Jumper…

No quarto tomo, Wild Bill, acompanhado de Calamity Jane, e numa parte final, de Charlie Utter, continuam a sua busca do assassino que finge ser índio e retira o escalpe às suas vítimas, abandonadas numa encenação macabra.

Wild Bill continua a dedicar-se ao jogo, Calamity Jane continua a afogar as suas mágoas em álcool, mas estranhamente a sua viagem com aquele que veio a considerar o responsável pelas suas desgraças, vai-lhe permitindo uma maior adaptação à sua situação. Charlie Utter, esse, continua prestável e agradável, tal como Bass continua confiante e de confiança.

Quando tentam retornar ao campo/frente de obra do caminho de ferro, que tinha ficado a ser liderado por Bass Reeves, acabam por descobrir que as ações do patrão da empreitada (Aristote Graham), nomeadamente a invasão de um cemitério índio, desencadeou uma revolta de várias tribos que se uniram para atacar o campo.

Mais um excelente tomo, numa série que mantém um registo de qualidade consistente na história, com bastante suspense, ação, credibilidade, profundidade e boa caracterização de personalidades e intenções. O argumento de Thierry Gloris é imaginativo e bem documentado.

O desenho continua muito bom, talvez até se tenha vindo a aprimorar ao longo do tempo, com Jacques Lamontagne a apresentar pranchas que constituem um verdadeiro gosto para a vista. A Dupuis vai continuar a apostar nesta série. Eu também, como leitor.



Lebensborn

Ui ui ui, que esta BD vale muito a pena ler…

Diferente do habitual, desenho moderno, inesperada temática. 

Isabelle Maroger, loira de olhos azuis (e isso interessa para quê? Já vão perceber), nascida em França apresenta-nos uma BD muito interessante com um ponto de partida curioso: o questionamento sobre a adoção da sua mãe.

Ao longo de mais de 200 páginas ficamos a conhecer várias personagens associadas à vida da autora, começando pela sua mãe, de origem norueguesa, muito loira, de olhos azuis, mas adotada por um casal francês. Tal história permite um certo colorido social e familiar, mas pouco mais do que isso. 

Mas escavando bem, acabamos por descobrir uma relação desta história aparentemente anódina com o programa de seleção nazi Lebensborn, e com a possibilidade de ser descendente de um soldado alemão selecionado pelas suas raízes arianas e muito loiro, de olhos azuis. O recurso aos flash backs é judiciosamente escolhido.

A autora questiona-se muito e faz-nos partilhar as suas linhas de raciocínio e pensamentos, mas fá-lo de forma muito inteligente, evitando ser maçudo, e mantendo sempre uma abordagem ligeira e razoavelmente bem-disposta, evitando lições morais, ou algum tipo de profundidade sociológica, necessariamente redutora. 

O papel social das mulheres ao longo do tempo, a maternidade, o conhecimento das origens familiares, dogmas nazis, estes são os temas abordados nas várias narrativas que se cruzam ao longo desta BD. 

A autora desenvolve a estrutura narrativa de uma forma que torna difícil não sermos seduzidos pela veracidade e pungência da situação. Claro que o estilo de desenho, muito agradável na minha opinião, mas simplificado, por vezes caricatural, pouco clássico (na apresentação das personagens) e detalhado, pode afastar alguns/algumas leitores/leitoras. Recomendaria que fizessem um esforço, porque ficarão tão absorvidos pela história e pela forma como ela é contada, que o estilo de desenho se vai “entranhar”.

Ou seja, e concluindo como comecei: esta BD da editora Bayard Graphic recomenda-se!






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