quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Prémios: E o Grande Vencedor do Prémio ACBD de 2024 foi...

 


Le Ciel dans la Tête dos espanhóis António Altarriba e de Sergio García Sánchez que assim vence concorrentes de respeito como Frontier ou Chumbo. Parabéns aos vencedores anunciados no passado dia cinco de Dezembro.

Como o prometido é devido, vamos lá abordar a nova BD de António Altarriba (neste caso, como referido, com desenho de Sergio García Sánchez), Le Ciel Dans la Tête. O primeiro que se pode dizer é que é reconhecível estarmos perante um argumento de Altarriba: perturbador, focado nas zonas negras da humanidade e do comportamento humano, contemporâneo, um grito de acusação para os abusos, desigualdades e verdadeira corrupção e exploração do outro.

Culturalmente, comportamentalmente, esta narrativa é bastante distinta das abordagens europeias anteriores de Altarriba. Neste caso seguimos (principalmente) Nivek, um miúdo que vai sobrevivendo trabalhando numa mina ilegal na República Popular do Congo. Para sobreviver, Nivek adapta-se, e a sua capacidade de adaptação chama a atenção da milícia que explora a mina, que o converte num guerreiro ao seu serviço. 

Inteligente e com visão, Nivek espera a oportunidade ideal para fugir, e estabelece um quase-roteiro que o levará através de África na procura de um futuro melhor, na terra da opulência, a Europa. Tudo é terrível e desafiador neste percurso, mas a esperança não esmorece, alimentada também pela esperança, otimismo e endurance de populações e pessoas simples com que se vai cruzando.

Sempre realista, não há excessos de moralismo, apenas realidades por vezes muito tristes e revoltantes, e alguma intenção de contrastar as queixas habituais dos europeus à realidade de vida e de morte no continente africano.

Graficamente, esta BD é um “tour de force”: a composição de página é exuberante, mas legível, o desenho é algo naif mas intencional, detalhado, e muito expressivo. As cores, que ficaram sob responsabilidade de Alexandra Carrasco, são um gosto para vista.

Pois é, cara leitora e caro leitor: mais uma entrega de Altarriba para os chamados “incontornáveis da BD”. Acabamos a leitura com um Ouuuffff! Fica esclarecido porque razão esta BD está a ser “cliente habitual” das classificações e prémios de fim de ano, e neste caso, o vencedor de um dos mais relevantes. A traduzir para português, por favor!

Miguel Cruz








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