Judee Sill
Um título
“estranho” e uma capa de fundo branco e razoavelmente psicadélica, muito peace
and love, criaram-me alguma hesitação na compra desta obra que foi o prémio
Elvis D’or 2024 em Angoulême.
Não conhecia a
personagem. Judee Sill é um álbum biográfico da cantora que editou dois discos,
e que foi uma figura aparentemente impactante do meio hippie da década de 70,
mas que morreu no anonimato, depois de muitos problemas com editores e managers.
Segundo o que é
transmitido pela editora Dupuis, a ideia desta BD terá nascido quando Juan Diaz
Canales ouviu uma música desta desconhecida no spotify. Com argumento de
Canales e desenho de Jesús Alonso Iglesias, a narrativa não é construída com
base na sequência cronológica, mas antes num conjunto de episódios que colocam
em evidência os traços de personalidade de Judee Sill, as origens dos mesmos, e
as situações relevantes no seu percurso de vida. A BD começa com a descoberta
pela polícia do que então foi relatado como o corpo de uma mulher,
aparentemente uma artista, e com suspeita de overdose.
O desenho é
realista, com traços muito angulosos, próximos de um estilo adequado a comics,
e cores muitas vezes exageradas, mas bem enquadradas na abordagem a um período
e um estilo de vida muito específicos. Nem sempre elegante, as escolhas
gráficas e de composição de página são extraordinariamente eficazes.
A história é
construída de uma forma entusiasmante, capturando o nosso interesse, e
transformando o anonimato e a incapacidade de aproveitamento de uma vida, num
relato interessante e de pendor humanista, sem nunca cair em lamechices ou numa
tentativa de justificar as escolhas da cantora.
Lê-se, por isso,
com avidez e curiosidade, sendo que não podemos deixar de ter um aftertaste de
tristeza. E provavelmente não deixarão os/as leitores/as de procurar ouvir
algumas músicas desta talvez pudesse ter sido artista.
Sem comentários:
Enviar um comentário