sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

A opinião de Miguel Cruz sobre "Judee Sill", de Canales e Iglesias

 


Judee Sill

Um título “estranho” e uma capa de fundo branco e razoavelmente psicadélica, muito peace and love, criaram-me alguma hesitação na compra desta obra que foi o prémio Elvis D’or 2024 em Angoulême.

Não conhecia a personagem. Judee Sill é um álbum biográfico da cantora que editou dois discos, e que foi uma figura aparentemente impactante do meio hippie da década de 70, mas que morreu no anonimato, depois de muitos problemas com editores e managers.

Segundo o que é transmitido pela editora Dupuis, a ideia desta BD terá nascido quando Juan Diaz Canales ouviu uma música desta desconhecida no spotify. Com argumento de Canales e desenho de Jesús Alonso Iglesias, a narrativa não é construída com base na sequência cronológica, mas antes num conjunto de episódios que colocam em evidência os traços de personalidade de Judee Sill, as origens dos mesmos, e as situações relevantes no seu percurso de vida. A BD começa com a descoberta pela polícia do que então foi relatado como o corpo de uma mulher, aparentemente uma artista, e com suspeita de overdose.

O desenho é realista, com traços muito angulosos, próximos de um estilo adequado a comics, e cores muitas vezes exageradas, mas bem enquadradas na abordagem a um período e um estilo de vida muito específicos. Nem sempre elegante, as escolhas gráficas e de composição de página são extraordinariamente eficazes.

A história é construída de uma forma entusiasmante, capturando o nosso interesse, e transformando o anonimato e a incapacidade de aproveitamento de uma vida, num relato interessante e de pendor humanista, sem nunca cair em lamechices ou numa tentativa de justificar as escolhas da cantora.

Lê-se, por isso, com avidez e curiosidade, sendo que não podemos deixar de ter um aftertaste de tristeza. E provavelmente não deixarão os/as leitores/as de procurar ouvir algumas músicas desta talvez pudesse ter sido artista.



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