quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A opinião de Miguel Cruz sobre "Michel Vaillant Légendes - T.2 L’ Âme des Pilotes", de Lapière e Dutreuil e "La Vie Secrète des Écrivains", de Hyman

 


Michel Vaillant  Légendes - T.2 L’Âme des Pilotes

Michel Vaillant é uma daquelas séries que sempre foi bem-amada em Portugal. Recentemente a marca Michel Vaillant tem dado origem a tantas edições, spin-offs e variações que nem sempre é fácil não nos “perdermos”. Criado em 1957, o primeiro álbum de Michell Vaillant foi publicado há 65 anos.

A série original teve 70 tomos, se ignorarmos edições especiais, publicitárias, etc, etc. Há ainda a série das novas aventuras (já por diversas vezes aqui mencionada, e que vai já com 12 álbuns). Temos ainda as histórias curtas – cujo primeiro tomo “Origens” é significativo no título, e que vai já com 3 tomos publicados (dos dois primeiros editados em português já aqui puderam ler uma análise). Claro, não nos esqueçamos do spin-off “Dossiers” que vai já com 17 números. 

Em 2022 foi inaugurada uma nova série: Légendes (Lendas), construída em torno da presença de Michel Vaillant (e Steve Warson) em corridas míticas na história do desporto automóvel. O primeiro tomo foi sobre Indianapolis (1966), e o segundo de que hoje vos falo sobre o Mónaco (1971). Esta série tem argumentos de Denis Lapière, que se tornou o argumentista de serviço da marca, e desenho de Vincent Dutreuil. 

O argumento é clássico, com aventura qb, interessantes descrições de momentos das classificativas e da corrida, perseguição e espionagem nos intervalos, câmaras focadas sobre alguns pilotos célebres, como Jackie Stewart, e uma entrevista em que Michel Vaillant abre a sua alma a uma escritora que foi contratada por uma revista. Nada de muito novo, segue-se com agrado, e os conhecedores da série irão perceber as relações deste episódio com “Série Negra” um dos álbuns “míticos” de Jean Graton. Com franqueza, depois de mais de 100 tomos publicados em torno de Michel Vaillant, tenderia a dizer que se torna difícil inovar de forma credível… mas mantenhamos o otimismo.

Quanto ao desenho, o circuito é bem reproduzido, as viaturas estão bastante bem, as imagens da corrida são bastante próximas das origens das aventuras de Michel Vaillant, os “cenários” são clássicos, mas bem desenhados. O único senão está em ocasionais problemas e erros nos rostos de alguns personagens. Não estraga o prazer da leitura, mas os erros são visíveis.

Não deixando de chamar a atenção para o facto de, no universo Michel Vaillant ainda termos os oito tomos das aventuras de Julie Wood (já para não falar de “Les Labourdet), termino referindo que esta BD foi editada pela Graton, casa de edição criada por Jean Graton (em 1982), falecido em 2021 e que teria feito o ano passado 100 anos. 



La Vie Secrète des Écrivains

Gostei bastante deste trabalho de Miles Hyman, editado pela Calmann-Lévy, adaptando o romance de sucesso de Guillaume Musso.

Esta “vida secreta dos escritores” foca-se num em particular, de seu nome Nathan Fawles, envolvendo ainda um aspirante a escritor, e uma jovem jornalista. Estranhamente, tirando o metediço, intrusivo e decidido jovem escritor, nada mais é o que parece e as camadas de segredo, mentira e ocultação são diversas.  

Nathan Fawles escreveu três romances de grande sucesso, levou uma vida de vedeta mas, subitamente, retirou-se para uma casa numa ilha, ambos de difícil e limitado acesso. E vive como um recluso, pouco é visto, não dá entrevistas, não tem visitas. Nem mesmo de jovens aspirantes a escritores à procura de conselhos. Nem mesmo de jovens jornalistas aparentemente desinteressadas da sua história passada, como é o caso de Mathilde Money.

Não posso ir mais longe na descrição sem introduzir aqui uns “valentes spoilers” – insuficiência minha, certamente. Relações de amizade e amor, vingança, perigo e acontecimentos que não se desenrolam como planeado, tudo isso está presente nesta longa BD de mais de 170 páginas. A linguagem usada, enquanto adaptação do romance, é muito cuidada e literária, adequando-se bem à sequência narrativa, fruto de uma escolha criteriosa e inteligente de Hyman, exímio adaptador de histórias.

O desenho é realista, com cores vivas de verão e de calor, muito sóbrio, pautado por sobreposições de manchas e tonalidades, sintetiza o essencial do romance num tratamento muito cinematográfico em que o desenhador franco-americano é um perito.

A leitura da BD revela-se cativante – eu que não tive tempo para a ler toda de uma vez  à primeira, quando recomecei fi-lo repetindo as páginas já lidas, para poder assegurar a imersão total nesta narrativa, e poder apreciar todos os seus pormenores e mudanças de humor (!) – e surpreendente. 



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