segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

A opinião de Miguel Cruz sobre "Une Nuit avec Toi", de Hrachyan

 


Une Nuit avec Toi

A BD com o título Une Nuit avec Toi (uma noite contigo) tem várias características interessantes, nomeadamente:

1) É uma primeira obra de Maran Hrachyan como autora completa. E nesse sentido é uma BD plena de promessas. Maran Hrachyan, de nacionalidade arménia, já tinha sido responsável pelo desenho na biografia de Patrick Dewaere, com o argumento do nosso conhecido LF – Bollée (ex: A Bomba). Une Nuit avec Toi constitui o seu segundo trabalho, e uma aposta significativa na demonstração de um virtuosismo gráfico interessante, com contornos cinematográficos.

2) É, do princípio ao fim, uma surpresa. Tudo o que acontece, desde a primeira à última página, vai sempre num sentido inesperado e imprevisível. Não é exercício fácil, conseguir lidar com uma sequência de situações equívocas sem perder credibilidade. E a autora consegue dar-nos essa credibilidade, sem exageros, mesmo se o final da história peca por abrupta.

Brune, a personagem central, é viciada em documentários (?) ou narrativas de serial killers. Uma noite em que vai a uma festa de amigos (desloca-se a pé e é objeto de comentários e piropos, que a deixam a olhar com frequência para trás), e tendo a autora construído bem um enquadramento psicológico adequado, o seu conhecido Alex propõe-lhe dar-lhe boleia até casa. Só que não o faz e acaba por a levar para a sua garagem, insistindo para que o acompanhe até ao seu apartamento.

Uma noite de pesadelo, ao longo de mais de 160 páginas, uma sequência de situações equívocas e erros de julgamento com consequências muito graves. Maran Hrachyan através do desenho, dos tons escuros, e da qualidade dos enquadramentos, como já referi, muito cinematográficos, apresenta-nos um ambiente sempre angustiante, coloca-nos sempre à espera de uma saída, para melhor nos enganar. Muitas passagens só com imagens e desprovidas de texto, valorizando reações, gestos, movimentos, olhares. 

Uma leitura inquietante que nos leva a não poder largar o livro, numa tensão constante, apressados em sair daquele pesadelo. Um desenho realista, sombrio, focado mais naquilo que cada “quadradinho” nos entrega, do que na fluidez das imagens. Editado pela Glénat, uma leitura diferente. Obrigado à autora pela simpática conversa e dedicatória.





Sem comentários:

Enviar um comentário