sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

A opinião de Miguel Cruz sobre: "Noir Burlesque - T.2", de Marini e "Newburn – Vol. 1", de Zdarsky e Joe Phillips

 





Noir Burlesque Tome 2

Acaba de ser publicado em Portugal pela "A Seita/Arte de Autor", o primeiro tomo Noir Burlesco dos dois previstos por Enrico Marini, autor que já dispensa qualquer apresentação, para esta aventura passada nos Estados Unidos da década de 50, e com múltiplas referências aos espetáculos de cabaret/night club e ao cinema da época, com destaque para os policiais negros.

Sobre este tomo, do seu conteúdo e do fantástico estilo de desenho, já tinha tido a oportunidade de aqui me pronunciar, ainda na sua versão original.

Por sua vez, o tomo 2 de Noir Burlesque acaba de ser publicado em francês, dando-nos a conhecer o destino de Slick e de Caprice, que tinha ficado em suspenso no anterior tomo, pendente do “serviço” proposto por Rex, o mafioso dono do Rex Night Club, e que envolvia o nome Zizzi.

Enrico Marini, possuidor de um dom e de um talento narrativo notáveis, apresenta-nos aqui mais de 120 pranchas absolutamente deliciosas, novamente marcadas pelos tons de cinzento e uma única cor: o vermelho.

Se o tomo 1 era agradável, e nos permita conhecer as personagens e construir uma base de narrativa, o tomo 2 apresenta-nos várias surpresas, incluindo Pablo Picasso e um falso e brutal índio, sendo extremamente movimentado e cativante.

A história não é particularmente inovadora, algumas das personagens são propositadamente estereotipadas, mas é consistente, bem construída e conduzida com profissionalismo, sem nos deixar um momento para recuperar o fôlego. É impossível parar de ler sem chegar ao fim, adequadamente aberto, apesar de diversas personagens não conseguirem chegar vivas às últimas pranchas. Constitui uma leitura muito agradável.

A edição da Dargaud, tal como acontecia para o tomo 1, apresenta muita qualidade. Felizmente que esta obra será publicada, na sua integralidade, em língua portuguesa, porque, acreditem, vale mesmo a pena.




Newburn – Vol. 1

Newburn é um ex-polícia, agora detetive privado, idade indefinida, mas com as têmporas já brancas, dir-se-á nas redondezas dos 50 anos. Newburn é um bom detetive, tem faro para os detalhes, inteligente, desembaraçado, pouco conversador, sério, frio e duro. Newburn tem o seu próprio código ético, e faz por não se desviar dele, por muito que tal exaspere vários à sua volta, e quando dele se tem de afastar, perde a sua habitual calma.

Newburn só tem um cliente: A máfia nova-iorquina. Ou melhor, o conjunto das famílias e grupos mafiosos nova-iorquinos. A premissa aqui é que Newburn é contratado por todos, como investigador independente exclusivamente para situações que prejudiquem, de alguma forma, aquelas ou alguma daquelas famílias. Doa a quem doer. Em consequência, a regra nas ruas é de que ninguém “toca” em Newburn. 

Também vários responsáveis na polícia, apesar de conhecerem a situação de Newburn, prestam-se a dar-lhe acesso a informação e aos locais de crime, tendo como contrapartida o contributo para a solução do crime e a manutenção de um certo nível de paz na cidade.

O problema deste emprego é que ele é perigoso, apesar da proteção de que beneficia Newburn. Desde logo porque a sua independência não agrada a ninguém, por muito necessária que seja. Em segundo lugar porque não apenas tem de apresentar sempre resultados, como os seus empregadores não são habitualmente pacientes. E finalmente, porque a polícia naturalmente não o parecia, e olha para Newburn como um potencial canal para obtenção de informação e acesso a negócios de algumas das famílias. Um cocktail explosivo que Newburn consegue ir mantendo equilibrado, não sem dificuldades.

Numa das aventuras policiais no contexto descrito, Newburn chega a perverter um pouco as suas regras, para contratar uma ajudante, impressionado pela sua inteligência e pela sua capacidade de adaptação, apesar de ela ter sido instigadora de um crime que envolveu uma das famílias que o contrata (o que, naturalmente, lhe dá uma margem de chantagem interessante para assegurar a boa colaboração da jovem!). Infelizmente, a jovem acaba por se revelar não apenas útil, mas portadora de uma história passada que cruza com os empregadores de Newburn, que a muito custo lá consegue resolver o problema.

Este primeiro volume da autoria do Canadiano Zip Zdarsky (argumento) e do Norte-Americano Joe Phillips (desenho) é muito interessante, um bom policial com um excelente ângulo de abordagem. Lê-se muito bem, os diálogos são inteligentes, a narrativa é contemporânea e credível. 

O desenho é muito profissional, com um traço muito realista, experiente na apresentação do detalhe, na condução do olhar do leitor, sóbrio, com excelente tratamento de sequências. Muito agradável mesmo, apesar da corrupção e falta de valores subjacentes ao submundo onde Newburn se movimenta. Da Image Comics.

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