O livro "New York Cannibals" já não é novidade, pois foi editado pela Ala dos Livros em 2020. Mas nós só o lemos recentemente e ainda bem, porque assim lemos primeiro a história que antecedeu a esta "Little Tulip", mas que foi editada depois, em 2022.
Já tínhamos publicado a nossa crítica sobre o fantástico "Little Tulip" cuja história acontece 20 anos antes desta que acabámos de ler. O talento reconhecido de Boucq, já um sinónimo de qualidade, junto com um poderoso argumento do escritor Jerome Charyn, resulta em dois excelentes álbuns de Banda Desenhada. Se ficámos surpreendidos com a primeira leitura, desta vez já sabíamos ao que íamos e queríamos conhecer a continuação da história. Não ficámos desiludidos.
Vinte anos após a conclusão sangrenta de "Little Tulip", em "New York Cannibals" vamos encontrar Azami como polícia. Ganhou corpo e tomou demasiados esteróides. Por isso, quando encontra numa ruela o bebé que a sua condição física a impede de ter, decide adoptá-lo, tal como Pavel outrora fizera com ela. Entretanto, o velho tatuador fora apanhado pelo seu passado. Os fantasmas do Gulag ameaçam engolir os seus, e ele terá de usar tudo o que aprendeu para os enfrentar: a força mística da sua arte… e essa violência surda, que permanece a mesma, da Sibéria a Nova Iorque.
Este último parágrafo, que é a sinopse da história, diz quase tudo, mas não diz que o livro nos leva para lugares inimagináveis, numa Nova Iorque obscura e secreta. Continuamos com violência e muito sangue, porém, se tivéssemos que resumir o álbum em duas outras palavras, optaríamos por sobrevivência e amor. Aqui faz todo o sentido usar aquela frase cliché "os amigos são a família que escolhemos". Pavel e Azami são dois sobreviventes que se escolheram como pai e filha que não são. E esse amor vai ser passado ao bebé encontrado que se vai tornar filho e neto.
Uma história incrível onde a par do crime, da crueldade, da tortura e da violência, conseguem sobreviver o amor, a amizade, a lealdade, a coragem e a ajuda ao próximo.
Mais um excelente livro da Ala dos Livros, que recomendamos.
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