Agora que terminou o festival de Angoulême e que foram já distribuídos os muito variados prémios de reconhecimento e celebração de bandas desenhadas e autores, voltemos aos comentários sobre algumas das boas edições de BD.
A série Mattéo, de Jean-Pierre Gibrat, cujos primeiros cinco tomos foram já publicados em Portugal (primeiro pela Vitamina BD e actualmente pela Ala dos Livros) e que acompanha as aventuras de um homem, conduzido pelo destino e pela sua relação com as mulheres, ao longo de um período que vai da primeira à segunda guerra mundial, passando pela revolução russa e pela guerra civil espanhola, terminou!
Certo da edição em Portugal deste sexto e último capítulo, não tenho qualquer pejo em afirmar que se trata de uma série absolutamente fantástica. Quanto ao desenho, penso não ser necessário destacar o virtuosismo e a qualidade do desenho de Gibrat, um dos autores de referência da Banda Desenhada Franco-Belga. Os desenhos são verdadeiramente belos, mesmo que o que retratam esteja longe de o ser. A expressividade dos rostos continua a ser marcante no trabalho de Gibrat.
Quanto à narrativa, que atravessa cerca de um quarto de século, ela é não apenas excelente como retrato histórico e mordaz das consequências da guerra, mas consegue também a proeza de dar vida a um conjunto vasto de personagens – vários dos quais se voltam a cruzar no final da série, neste tomo 6 – de que percebemos as motivações, as razões subjacentes às suas ações, nunca perfeitas, mas verdadeiramente humanas, confrontadas com o pior da humanidade.
No tomo 6, o tema central é o regresso de Mattéo às origens e a tentativa de se reconciliar com o seu passado, sendo central a sua relação com a sua mãe e a tentativa de estabilizar uma relação com o seu filho (que não sabe que o é) Louis. Este tomo 6 é o menos centrado nos acontecimentos decorrentes da defesa de determinados ideais, que Gibrat muito bem caracteriza ao longo da série…os anos passaram, as derrotas deixaram marcas. Por uma vez, Mattéo tenta ser o condutor da sua vida e das suas ações. Se finalmente o consegue ou não, fica para descoberta da leitora/leitor.
Ao longo da série ficámos tão habituados às personagens, com as quais vibramos, sentimos e sofremos, que o terminar da série é sempre um momento difícil. E é esta constatação que nos prova estar perante uma série de qualidade, uma das melhores que a Banda Desenhada nos pode apresentar. Uma edição Futuropolis e esperemos que em breve pela Ala dos Livros.
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