quarta-feira, 3 de julho de 2024

A nossa leitura de "Admirável Mundo novo", adaptação de Fred Fordham - edição Relógio D'Água


Adaptar para Banda Desenhada um clássico é sempre uma responsabilidade. Fred Fordham fê-lo novamente, depois de já ter adaptado e ilustrado "Mataram a Cotovia", de Harper Lee e adaptado o texto de "O Grande Gatsby" de F. Scott Fitzgerald. Dois livros que foram editados pela Relógio D'Água, tal como este. Desta vez Fordham fez a adaptação para novela gráfica da obra "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley.

Publicado originalmente em 1932, Admirável Mundo Novo é uma das obras mais reverenciadas e profundas da literatura do século XX. Abordando temas de hedonismo e controlo, humanidade, tecnologia e influência, o clássico de Aldous Huxley reflete a época em que foi escrito, para que nos alerta, e permanece assustadoramente relevante.

Nunca tínhamos lido o original, e por isso o primeiro contacto com a obra foi mesmo através da Banda Desenhada. Mergulhámos assim numa leitura fora da caixa, quer pela história, quer pelos desenhos. A história leva-nos a um futuro imaginado onde não existe sofrimento. Tudo é igual, hermético, limpo, com todas as ofertas de programas para que as pessoas se sintam felizes. Nunca ninguém fica doente, as pessoas nascem através de processos artificiais, ninguém nasce de um pai e de uma mãe, porque todos os laços afetivos acabam por trazer sofrimento. Desta forma ninguém se afeiçoa a uma só pessoa e são aconselháveis as relações sexuais com múltiplos parceiros. E se alguém sente algum incómodo, a solução é sempre tomar a droga SOMA, que evita a angústia, a dor e conserva a alegria.

A descrição desta sociedade futura em que as pessoas são condicionadas genética e psicologicamente desde o dia em que nascem e têm que se conformar com as regras impostas, fez-nos lembrar outra distopia, o livro 1984, de Orwell. Em ambas, há sempre uma falha no dito sistema perfeito, alguém que fura o esquema, que se questiona e que vai ser o motor da mudança.

Resumindo, é uma obra original e provocadora e à qual Fred Fordham optou por representar também de uma forma diferente, onde o condicionamento psicológico e as constantes repetições que se ouvem, estão escritas e fazem parte do cenário, como se o próprio leitor estivesse a ouvir vozes. 



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