sexta-feira, 17 de novembro de 2023

A nossa leitura de "Mau Género", de Chloé Cruchaudet - Edição Iguana

 


Bastou lermos a sinopse e olhar para os magníficos desenhos, para termos a certeza de que seria um livro de que iríamos gostar muito. Não nos enganámos.

Só por si a história, inspirada em factos reais, é incrível e surpreendente. A obra é inspirada no livro "La Garçonne et l'Assassin" de Fabrice Virgili e Danièle Voldman, também inspirado numa história verídica. "Mau género" é sobre Louise e o seu marido Paul, travesti, condição a que foi obrigado por ter desertado da Primeira Guerra Mundial, transformando-se em Suzanne. Os dois amam-se perdidamente e a forma que encontram de ficar juntos é garantir o disfarce de Paul e a cada dia é mais aperfeiçoado, para que possa sair à rua e não ficar enclausurado. A mudança de género misturada com o trauma da guerra e a longa duração da clandestinidade, vão provocar dificuldades não só financeiras como de todo o tipo, que o casal tem de enfrentar e a relação vai sair desgastada, levando à separação e à tragédia. 

A autora, Chloé Cruchaudet, que esteve no Amadora BD a convite da editora Iguana, para além do excelente argumento, apresenta-nos desenhos magníficos, com um estilo muito pessoal, muito delicado, parecendo aguarelas de cores muito ténues, acinzentadas, onde o laranja (ou cor de tijolo) fazem sobressair uma saia ou um vestido. As páginas são muito originais, sem "quadradinhos", onde as imagens não são limitadas por traços, terminando numa forma arredonda e "esfumaçada". Por vezes temos uma página inteira onde se passam várias cenas, sem nenhuma limitação, dando mais força e movimento a uma dança, por exemplo, como mostramos numa das imagens.

Não é à toa que esta obra já recebeu vários prémios, entre os quais o Prémio Comics ACBD da Crítica, o Prémio do Público (Melhor Álbum) do Festival de BD de Angoulême e o Prémio Micheluzzi para Melhor BD Estrangeira. Esta é, sem dúvida, uma grande aposta da Iguana e nós ficámos a ganhar não só uma excelente edição, como tivemos o privilégio de conseguir um autógrafo da autora, conforme mostramos aqui.






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