terça-feira, 7 de novembro de 2023

A opinião de Miguel Cruz sobre: "Blake e Mortimer - L’ Art de la Guerre", de Bocquet, Fromental e Floc'h e "Initial_A.", de Murat

 


L’ Art de la Guerre

Não, não se trata de Sun Tsu, mas sim de uma das BD mais difíceis de classificar dos últimos tempos editoriais franco-belga. Da série Blake e Mortimer, José -Louis Bocquet (já aqui várias vezes mencionado e argumentista de “Oito Horas em Berlin”), Fromental (bem conhecido argumentista e que co-escreveu “Oito Horas em Berlin”) e Floc’h (lembram-se da série Albany & Sturgess, com títulos notáveis como “O Encontro de Sevenoaks” ou “À Procura de Sir Malcom”) entregam-nos uma BD interessante, bem imaginada, mas que não constituirá um opus na tradição das sequelas de Blake e Mortimer de Jacobs. 

Trata-se de uma BD ovni, tal como o foi o “O Último Faraó”.

Floc’h tem um desenho elegante, apurado, muito bom para representar a histórica fleugma britânica, mas muito longe do nível de detalhe e pormenor e perfeição teatral das narrativas Jacobsianas e da maioria das suas sequelas. O desenho é de “grandes dimensões”, a obra estende-se por 138 páginas - parece adequado!

Pretendendo surgir sequencialmente após “A Marca Amarela”, esta BD procura ainda introduzir um elemento de atualidade através de um discurso do Capitão Blake nas Nações Unidas apelando à necessidade de uma paz duradoura, e uma novidade com a presença do nosso duo de heróis em Nova Iorque. E quem ouve “a presença de Blake e de Mortimer”, imagina automaticamente a “omnipresença” de Olrik. Pois é, o nosso coronel, espião, encarnação da malvadez, lá está, mas “não em muito bom estado”, acabadinho de sair da aventura (desventura) Marca Amarela (pobre Guinea Pig!). 

A captura de Olrik, depois de uma estranha intervenção na secção egípcia do Metropolitan Museum, e uma vez informados os nossos heróis via FBI, vai espoletar um conjunto de interessantes acontecimentos. 

Os puristas criticarão a discrepância do desenho em relação às baias definidas para a série. Eu como grande fã de Jacobs demorei a “habituar os olhos”. Mas o ambiente está lá, e a BD devora-se com muita facilidade e agrado. Como habitualmente com a chancela editorial Blake et Mortimer. Esperemos agora pela edição portuguesa para breve.





Initial_A.

Foi já em outubro deste ano que a já prometida edição do primeiro livro realizado por inteligência artificial foi publicado pela desconhecida Log Out. Da “autoria” de Thierry Murat, através do sistema Midjourney, aparentemente a obra foi recusada pela Delcourt – constou-me que não terá sido a única.

Não acho nada boa ideia, manifesto-me aqui contra a utilização de IA para a edição de uma BD, mas creio que já sabíamos que, mais tarde ou mais cedo, seríamos confrontados com esta realidade. 

Por isso mesmo não comprei a BD, e tive apenas a oportunidade de ver uma amostra de várias páginas do total de 144. Logo, o que aqui se segue não constitui uma crítica, como poderia, não se deve criticar o que não se leu na integralidade. Constitui, para além de uma “notícia” sobre um acontecimento que, pode não nos agradar, mas que terá a sua importância, também uma primeira impressão sobre esta ideia de utilização de IA.

As pranchas são “certinhas”, rostos “bonitinhos”, tudo “arrumadinho”, os desenhos de qualidade embora por momentos me pareçam “fixos”, sem vida nem fluidez (provavelmente será o que queria achar), nada a dizer por aí. As cores parecem estar bastante bem, apesar de ser notório de que se trata de trabalho em computador. Há pormenores que diria recuperados de imagens bem conhecidas, mas no essencial a mistura é tão grande que não se consegue apontar uma cópia.

A narrativa e os diálogos, referentes às aventuras de uma Alice num planeta devastado, com referências a Alice no país das maravilhas e ao mundo dos sonhos, parecem muito formais, sobre-estruturados, e nada naturais. Há muita narração e, na minha opinião os textos narrativos a fundo preto não ajudam a tornar a leitura agradável. Mas, repito, não li a totalidade da BD.

Eis algo que não recomendo para tradução em português, que não me atrai, mas que não posso ignorar: evoluirá!

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