L’Ombre des Lumières - Tome 1
Série prevista em três tomos, L’Ombre des Lumières é a nova aposta do argumentista de “O Burlão das Índias”, Alain Ayroles. Desta vez acompanhado por Richard Guérineau no desenho, um autor com muitas BD publicadas, entre as quais uma série que foi célebre no século passado chamada “Le Chant des Stryges”, dono de um desenho realista muito pormenorizado, com um bom sentido de mise-en-scène e um excelente domínio dos contrates luz-sombra.
O Tomo 1 entitula-se “L’Ennemi du Genre Humain” – o inimigo do género humano, título que resume de forma simples o que temos “pela frente”. Através da descoberta da correspondência do cavaleiro de Saint-Sauveur, podemos ir conhecendo a personagem que viveu no século XVIII e que, desde muito cedo nesta BD não nos deixa qualquer dúvida: era um verdadeiro crápula.
A ligação ao romance e ao tema dos filmes Valmont e Ligações Perigosas é, pelo menos parcelarmente, evidente. Aqui vamos seguindo os comportamentos daquele nobre de baixa estirpe, que age muitas vezes sedutoramente mas desprovido de escrúpulos.
A fortuna nem sempre lhe sorri, mas a capacidade de transformar situações desagradáveis em seu favor está presente. O véu sobre os objetivos deste aventureiro aparentemente amoral não é levantado neste tomo 1, embora pareça que fazer o mal constitui, em si, um objetivo, pelo que teremos de esperar a continuação da história, e os autores sabem bem criar o suspense.
O ambiente retratado, os diálogos, as roupas, os jardins, os veículos, tudo é apresentado de forma cuidada e atrativa. Diria, em certos momentos, um filme de Milos Forman.
A narrativa é apresentada em parcelas baseadas nas cartas encontradas, o que é excelente para o seu ritmo, sendo que por vezes, cria algumas dificuldades para perceber quem é quem ou quem disse o quê. É comum ter de voltar atrás para “consulta”, o que mostra que a estrutura da BD é cuidada, e a sua leitura exigente.
Gosto bastante do trabalho de cores que confere às páginas um calor e uma luminosidade notáveis. A edição foi também ela muito cuidada, com lombada em tela, duas versões, uma a cores e outra a preto e branco, capa bonita e papel de qualidade.
Em resumo, uma BD de época, interessante, épica, bem trabalhada, inteligente. O cavaleiro ainda tem, parece, bastante caminho a percorrer. Vamos lá ver como as coisas evoluem. Edições Delcourt.
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