Amours Fragiles – Tomo 9: Crépuscule
Está quase a ser publicado o novo “opus” de Gaston Lagaffe, sem Franquin. Está quase a sair o novo Largo Winch, final de uma aventura (sempre em dois tomos). Saiu recentemente o novo Astérix, com uma edição de 5 milhões de exemplares, dos quais mais de 500 mil foram vendidos na primeira semana. Foi publicada uma nova aventura de Blake e Mortimer que criou uma discussão e curiosidade no mercado. O novo tomo de Undertaker acaba de ser publicado, enquanto Ralph Mayer se desdobra em ações promocionais. A publicação de um tomo de Blacksad é sempre um acontecimento. Quando esse tomo termina uma aventura então…
No meio de tantos eventos editoriais relevantes para o universo da BD, é importante que a publicação do tomo 9 e último da série “Amours Fragiles” não passe despercebida. A saga teve início nos dias da ascensão de Hitler ao poder. Neste tomo 9, a guerra já terminou, e o grande esforço de caracterização de um vasto leque de personagens, nomeadamente o alemão Martin e Katarina, a sua paixão que constituiu também a sua forma de abrir os olhos para a forma como os Nazis pretendiam tratar os judeus, termina de forma coerente e dando a conhecer o destino de várias delas.
Encontros, reencontros, desilusões, vinganças, o natural no período pós II Grande Guerra, em que vastos espaços da Alemanha não são mais do que campos de ruínas, e muito há a fazer. O título deste último tomo, Crépuscule, é muito bem escolhido.
Com o tomo 9, é encerrada uma narrativa excecional, que se manteve com grande qualidade do primeiro ao último tomo. Este é o primeiro aspeto mais relevante a destacar. O outro é de que a qualidade do desenho tem vindo a melhorar.
Muito bom, recomendável. Um notável romance em Banda Desenhada. Desenhos de Jean-Michel Beuriot e argumento de Philippe Richelle, editado pela Casterman.
Edgar (De Lisbonne à Paris, dans le pas de mon beau-père révolutionnaire)
Mathieu Sapin não é, para muitos aficionados da banda desenhada, um ilustre desconhecido. Casado com uma portuguesa, esteve presente no Amadora BD apesar de não ter livros publicados em português à época, o que facilitou muita simpática conversa, mas não sei se muito interesse na incessante procura de autógrafos.
Autor com uma já extensa bibliografia, e que se tornou conhecido em particular por acompanhar (e relatar em BD) figuras em destaque, como foi o caso de François Hollande, de que acompanhou a campanha e a presidência, ou Gérard Dépardieu – apreciei bastante “Gérard, cinq ans dans les pattes de Dépardieu” – creio não estar enganado ao referir que ainda não há qualquer tradução de uma sua BD em português.
Sapin vem agora relatar, num One Shot de 160 páginas, a história do seu sogro marxista, resistente salazarista e um contador de histórias, que vivendo em Lisboa, emigra para França. A história é essencialmente passada em Portugal relatando consecutivos episódios de uma personagem desconfortável e pouco disponível a fazer concessões. Através desta narrativa podemos também observar alguns “retratos” históricos de um período de ditadura, e diversas imagens de uma Lisboa com locais que o marcaram.
Interessante, particularmente, imagino, para um Sapin nascido após a Revolução dos Cravos, em 1974, em França. Bem estruturada como descoberta de uma vida passada, embora nem sempre seja fácil destrinçar entre o que é verdadeiro e o que é exagerado (ou gabarolice).
O desenho de Sapin é uma mistura de caricatural com realista, com um estilo básico e esboçado, nem sempre respeitando as proporções, mas com uma boa capacidade de apresentação das situações, com boas pranchas de Lisboa, e com uma adequada abordagem às emoções e estados de espírito. Fácil de seguir e bastante envolvente, o único senão está no facto de, por vezes, os textos serem muito longos.
Editado pela Dargaud, constitui uma leitura com fundo português, o que é bom. Pode ser que num futuro breve, tenhamos Sapin na Amadora, desta vez com livro à venda na nossa língua…
Sem comentários:
Enviar um comentário