terça-feira, 14 de junho de 2022

A nossa leitura de Little Tulip, uma obra brilhante de François Boucq e Jerome Charyn

É verdade que o nome de Boucq já nos leva a pressupor a qualidade de um livro com a sua participação, mas gostamos muito quando não temos expectativas em especial sobre um álbum e somos surpreendidos pela positiva. Foi o caso deste "Little Tulip" editado recentemente pela Ala dos Livros.

A obra original é de 2015, anos em que estivemos no Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême e onde esteve patente uma exposição intitulada "Tatoos" referente ao livro. Portanto, as imagens já conhecíamos e antevíamos uma boa história, mas não imaginávamos tão boa.

"Little Tulip" é uma história de sobrevivência e de vingança pessoal, que se desenrola ao ritmo de misteriosos assassinatos que ocorrem em Nova Iorque. Mas "Little Tulip" é, também, a história da vida de Pavel, vinte anos antes dos acontecimentos de "New York Cannibals".

Feito prisioneiro ao mesmo tempo que os seus pais, a infância de Pavel chega ao fim quando, aos sete anos de idade, descobre o inferno do Gulag. Separado dos seus, é forçado a absorver as regras que regem o seu novo universo: a violência permanente e o poderio absoluto dos chefes dos gangues. Convertido num temível lutador, Pavel consegue sobreviver como tatuador graças ao que aprendera com o pai e às lições do seu novo mestre de desenho. Com o decorrer dos anos, a fama de Pavel estende-se a todos os campos e o seu talento torna-se uma lenda.

As história vai alternando com a vida actual de Pavel (em Nova Iorque) e a história da sua infância e adolescência, passada num campo de trabalhos forçados na Sibéria, onde Pavel faz o quem tem a fazer para sobreviver. O seu extraordinário talento para o desenho, leva-o por caminhos inimagináveis. A par do seu talento, Pavel é dotado de uma enorme sensibilidade, que na sua vida adulta se demonstra na prestação de um outro serviço, para além do de tatuador. Reservado, não fala da sua vida, mas as tatuagens que tem no corpo contam sobre a sua história.

Ao ler este livro fez-nos recordar universos de filmes passados durante a Segunda Guerra Mundial, como "O Império do Sol", onde uma criança inglesa (protagonizada pelo estreante Christian Bale), separada à força dos seus pais, vive durante vários anos num campo de concentração japonês. No fundo é um álbum muito cinematográfico que nos transporta rapidamente para o enredo e cenários da história. François Boucq com os seus desenhos e o escritor Jerome Charyn (textos) criaram um álbum brilhante e de referência. Aliás, não apenas um porque "Little Tulip" é a prequela de "New York Cannibals", lançada em Portugal também pela Ala dos Livros em 2020, ao mesmo tempo que em França.






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