sábado, 25 de junho de 2022

A opinião de Miguel Cruz sobre: "Tramp - Traquenard en Mer - Tomo 12", de Jean Charles Kraehn e Roberto Zaghi

 


Tramp 12 – Traquenard en Mer

Em 2003 a Asa editou o primeiro volume de uma série de aventuras denominada Tramp, em que a personagem central (“herói”) era o capitão Calec. Esta publicação não veio a ter continuidade.

A série Tramp foi criada em 1993 por Jean Charles Kraehn (argumento e desenho) e por Patrick Jusseaume (desenho), qualquer deles com vários álbuns de sucesso, mas que me recorde, nenhum deles publicados em Portugal: Gil St. André, L’Aviator, Le Triangle Secret, entre outros.

O primeiro ciclo desta série teve 6 tomos, em que Calec, um jovem comandante, tomado erradamente por inexperiente, é contratado por um armador para liderar a atividade comercial de um velho navio recuperado, sendo que a intenção não revelada é de que o navio venha a ser afundado para poder receber o dinheiro do seguro.

Para esse efeito, o armador em dificuldades financeiras conta com várias cumplicidades, nomeadamente a do nomeado segundo comandante do navio, seu homem de mão e “mau como as cobras”.

Calec consegue “safar-se” e ainda acaba por conhecer aquela que vai ser a sua mulher…

A série fez relevante sucesso, o que é natural. A história é bem construída, tem lógica, é consistente apesar de muito aventurosa, o suspense é muito, a ação também, e tudo é bem representado por um desenho cuidado, sóbrio e extraordinariamente eficaz nas cenas marítimas, que são a grande maioria. Para além disso, os dois autores documentaram-se detalhadamente, e dão-nos muitos pormenores técnicos e jargão da atividade da marinha mercante na década de 50. Esse cuidado tem um impacto muito positivo na credibilidade da história.

O segundo ciclo é passado na Indochina (estamos, recordo, na década de 50), e são três os tomos que completam uma história de aventura passado no período da guerra da força expedicionária francesa na Indochina. Os detalhes são muitos – os autores deslocaram-se a diversos locais desta região que inclui os posteriormente denominados Laos, Cambodja, Vietname (e parcelas da Tailândia). 

No tomo 10, Calec adquire um navio e passa a atuar por conta própria, apesar de problemas com sindicatos de estivadores e outras peripécias. Os tomos 10 e 11 são ambos histórias isoladas, interessantes, muito detalhadas e com desenhos e cores de grande qualidade.

Infelizmente, e isso é notório em ambos os tomos, Patrick Jusseaume, que veio a falecer em 2017, começou a ter sérios problemas de saúde. No tomo 10, as últimas páginas foram desenhadas por Kraehn, e no tomo 11 (publicado em 2017, com um hiato de 5 anos em relação ao anterior, tendo os dois autores esperado por uma recuperação do estado de saúde de Jusseaume) consegue-se perceber a arrepiante evolução da doença, sendo que, como é referido no livro, o cansaço levou a melhor e a partir da página 30, os desenhos são novamente de Kraehn. Este é também um testemunho da amizade que ligou os dois autores.

O Tomo 12 acaba de sair, com Roberto Zaghi no desenho. Este autor já tinha feito prova na série Thomas Silane. O desenho é diferente, talvez menos agradável, menos detalhado, mais vincado – faz-me lembrar mais um desenho do IRS – mas é eficaz, e vê-se a adaptação ao longo das páginas a este contexto marítimo. Portanto, por aqui as coisas estão bem encaminhadas.

A história é novamente muito bem construída, não é previsível, as surpresas são relevantes, os detalhes técnicos continuam a ser abundantes, e esta é a primeira parte de uma história que apenas se terminará no tomo 13. E termina com um suspense bem construído.

O navio Pierrick, do Comandante Calec, navega perto da Ilha da Reunião quando é apanhado numa tempestade, e apercebe-se da presença de um navio que parece estar a afundar-se. Na ausência de contacto rádio, Calec decide ir a bordo do navio que se afunda, e aí descobre que algo de estranho se passou, pois todos os tripulantes foram mortos de forma violenta. Não consegue descobrir mais pistas, e apenas consegue recuperar o único sobrevivente: Um papagaio na sua gaiola.

Após relatada esta aventura às autoridades marítimas, Calec aceita um frete da companhia concorrente que era dona do navio que afundou. E aí começam os problemas que se vão juntar ao pedido de divórcio que a sua mulher apresentou.

Pelo meio, temos uma escala em Lourenço Marques, onde as autoridades coloniais portuguesas são retratadas de forma pouco simpática. Lourenço Marques vai ser, geograficamente, o centro da trama que se vai desenrolar. Recordo que estamos na década de 50.

Em resumo, uma série de qualidade, com aventuras interessantes em alto mar, em que a Dargaud continua a apostar, após quase 30 anos.







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