quarta-feira, 1 de junho de 2022

A opinião de Miguel Cruz sobre: Dante, de Luís Louro - Edição Ala dos Livros

 


Dante, de Luis Louro

Não pensava escrever sobre este livro que recebi pelo correio na quinta-feira anterior ao Festival de BD de Beja, e lida no próprio dia. Porquê? Porque é um livro de um autor que suscita em nós boas reações: assim que temos um livro novo na mão, lemo-lo logo. Por isso, achei “para quê dar a opinião sobre uma BD que certamente todos os leitores deste (citando Taka Takata) miserável texto já tiveram oportunidade de devorar?”.

No entanto, durante o Festival de Beja duas ou três pessoas perguntaram-me o que tinha achado, e o Luís Louro desafiou-me a dar-lhe a opinião, ao mesmo tempo que ia fazendo o seu espetacular autógrafo no álbum que lhe coloquei nas mãos (ver no final o autógrafo).

O Carlos Cunha, por sua vez perguntou-me já umas três vezes o que eu tinha achado. E como dar a opinião sobre este livro sem um detestável spoiler? 

Todo um desafio! Por isso, resolvi-me, pós Beja, a escrever esta (novamente citando o pitosga nipónico) humilde opinião.

Começo do fim para o princípio. O próprio autor deu-me uma excelente sugestão, já cumprida:  a de ler a BD uma segunda vez. 

Esta é uma BD apesar de tudo diferente do que Louro realizou anteriormente, no sentido em que é uma obra mais extensa, com uma profundidade e complexidade narrativa grandes, com muitas camadas de leitura e várias referências de crítica social, alguns momentos angustiantes, apesar da sensibilidade de enquadramento e perspetiva, e uma grande quantidade de piscar de olhos. Piscar de olhos a obras anteriores do autor, a outras obras que fazem parte do nosso imaginário, a outras obras de BD. 

Luís Louro, além de um excelente autor de BD, é uma pessoa de que gostamos, estamos para além disso habituados a um vasto conjunto das suas referências e piadas. E algumas das referências a gosto, cá estão. 

Um leitor que comece por esta obra de Luís Louro perderá certamente a riqueza de algumas das ditas referências, mas nada perderá do evoluir desta narrativa. E porque valorizo eu este aspeto? Porque olho sempre para cada livro de Luís Louro como um potencial publicável noutros mercados. 

E este é um livro quer pela história, quer pelo desenho, publicável noutras línguas. 

Etnad… perdão, Dante, é um miúdo que vive com a sua mãe, cega, numa quinta, na orla de um bosque (França…). Um dia, um avião alemão cai naquela zona, e um grupo de soldados nazis é enviado para o procurar e vai dar á quinta do nosso “herói”. Pelo meio temos um espantalho, Virgílio, amigo do miúdo e que o procura ajudar, desempenhando papel central nesta história que mete um conjunto de goblins chefiados por Reltih (em caso de dúvida, voltar ao início do parágrafo). “O equilíbrio entre mundos é essencial, e poderia ser quebrado pelo amor entre uma humana e um elfo”.

O desenho é notável, e o estilo Luís Louro está bem presente e em boa forma. As cenas iniciais em que Louro “brinca” com os seus Messerschmidt bf 109 e Spitfire Mk-I em desenhos plenos de ação de página(s) inteira(s) são dignas de nota. Uma bela sequência de abertura.

Assim, acho que consegui recomendar sem grandes spoilers, certo?








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