Kleos é uma nova série de que o título do tomo 1 nos dá uma boa ideia da base da narrativa: Celui qui Rêvait de Gloire (Aquele que Sonhava com Glória, numa tradução literal).
Philoklès é um jovem pescador, habitante de uma vila grega no Mediterrâneo, que se vê atacada por piratas no ano de 499 a.c.. Admirador das epopeias gregas, da Ilíada, da Odisseia de Homero, Philoklès é um sonhador cujos ideais são formatados à luz da mitologia grega. Quando a sua aldeia é pilhada, este jovem exige das autoridades alguma reação, e o envio de uma expedição que permita pôr termo a estes frequentes ataques. Ingénuo, inconsciente e empenhado, Philoklès acaba por embarcar no seu frágil barco de pescador, para seguir a pista dos piratas.
Rapidamente vai descobrir que isto de ser um herói não é fácil e que, se calhar, a sua preparação para esta aventura não é a melhor. Com alguma sorte à mistura o jovem vai prosseguindo o seu périplo, sendo que o tomo 1 termina num momento em que, após ser ferido e o seu barco ser incendiado, parece que essa sorte terminou. Um bom tratamento do suspense.
Pela nossa parte, acompanhamos esta aventura com gosto, num relato que evidencia a violência de uma sociedade marcada pela lei do mais forte, pela escravatura e pela brutalidade corrente. Somos confrontados, assim, com alguns elementos históricos interessantes, relativos à civilização grega, bem como com as tradicionais tempestades no mar, sereias, oráculos e as mulheres da ilha de Lesbos. Mark Eacersall e Serge Latapy são os dois responsáveis pelo argumento, tendo o primeiro já o registo de algumas BD muito interessantes e com bom acolhimento do público (“Cristal 417” e “Tananarive”, por exemplo), e sendo o segundo um jornalista especialista em civilização grega.
A desenhadora, Amélie Causse apresenta-nos um conjunto de pranchas bem estruturadas, grandes espaços, boas perspetivas, com um desenho sóbrio, moderno e agradável, rico em detalhes de natureza histórica, com cores muito luminosas. As imagens são expressivas e a história evolui com rapidez e consistência. Editada pela Bamboo, esta BD constituiu para mim uma agradável surpresa. Não apresenta, à partida, uma grandiosidade de um “Murena” ou de um “Alix”, mas não deixa de ser uma abordagem interessante, curiosamente conseguindo conciliar preocupações de atualidade e enquadramento histórico credível, e de leitura satisfatória.
A vontade de conhecer a sequência desta história é animada pela notícia da previsão da publicação do tomo 2 no final de abril de 2023.
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