segunda-feira, 22 de maio de 2023

A opinião de Miguel Cruz sobre: "Le Héros du Louvre - tome 1", de Chouraqui e Depedri e "Ladies with Guns – Tome 2", de Anlor e Bocquet



Le Héros du Louvre - tome 1

Que história interessante esta, do primeiro tomo, de título La Joconde a le Sourire (a Gioconda tem o sorriso) de uma nova série intitulada O Herói do Louvre, designação bem escolhida porque necessariamente atrativa.

Babi Maklouf, jovem argelino fascinado pela França, emigra para aquele país e torna-se guarda noturno no magnífico e fascinante Museu do Louvre. O seu entusiasmo e paixão por aquelas obras de arte não poderia ser maior. Só que o tempo de fascínio pacifico é curto, pois os exércitos da Alemanha Nazi estão às portas de Paris, e é do conhecimento geral o que, com a invasão, acontecerá à generalidade das obras de arte deste museu.

É preciso, pois, subtrair as obras de arte da cobiça do invasor, para o que há muito trabalho pela frente: selecionar, embalar e transportar as obras de arte. Babi Maklouf é um dos trabalhadores escolhidos para estas tarefas. O nosso personagem central coloca todo o empenho nesta perigosa tarefa, mas faz questão de ter a sua família consigo.

Conduzindo um camião, e realizando um perigoso périplo por um país ocupado, o medo e a coragem de Babi e da sua família, entre outros, vão ser os sustentáculos da excelente narrativa construída por Élie Chouraqui, realizador, produtor e escritor Francês, em homenagem ao que designa por “o seu avô perfeito”. 

Os desenhos ficaram a cargo da para mim desconhecida Litizia Depedri, dona de um traço elegante, semi-realista, muito interessante, bem trabalhado nas perspetivas, movimentos e emoções, com diversos grandes planos, e sem excesso de detalhes. As cores são luminosas e muito atraentes. Um excelente primeiro trabalho, parece-me.

Com um total de 56 pranchas, as primeiras começam por nos apresentar, de uma forma resumida, o nascimento e juventude de Babi, até para nos situar bem na sua relação com a sua mulher, e dar um adequado enquadramento às razões que o levaram a não se querer separar da sua família, apesar dos perigos a que a vai expor.

A base de toda esta história é verdadeira, a angústia é palpável, as situações criadas pela ocupação alemã apresentam um tratamento adequado, e o pensamento positivo de Babi é notável e refrescante. No entanto, trata-se apenas do primeiro tomo, pelo que a história terá continuação, e a qualidade da narrativa deverá ser objeto de uma apreciação completa. Mas as primeiras impressões deixadas são muito positivas.

Editado pela Glénat no princípio de abril de 2023, é uma das boas e fresquinhas novidades editoriais em França.







Ladies with Guns – Tome 2

Esta é uma série sobre a qual já tinha tido a oportunidade de comentar o tomo 1 para a revista JuveBêDê. Como gostei quer do primeiro, quer do segundo, não me parece desapropriado chamar novamente a atenção para a série.

Recordemos então: Toda a aventura gira em torno de uma jovem escrava em fuga, de uma jovem índia sobrevivente do massacre da sua tribo, de uma jovem inglesa recentemente viúva, de uma jovem dançarina de saloon, e de uma menos jovem, mas não menos intensa professora irlandesa.

No tomo 1 todas estas personagens têm a oportunidade de se encontrar e unir, bem como de se meter em valentes trapalhadas. Cassie, Chumani, kathleen, Abigail e Daisy têm, neste tomo 2, a sua cabeça colocada a prémio, e são objeto de intensa perseguição por diversos grupos e indivíduos. Mas se seria de esperar que o grupo de 5 mulheres de caráter se escondesse neste tomo, até que tudo acalmasse e que a irlandesa Daisy pudesse recuperar dos ferimentos na perna (que vai ter de ser amputada), o que encontramos é um recrudescimento da aventura, das explosões, enfim, da reação do grupo, sendo que vamos vendo as personagens ganhar cada vez mais consistência, apesar de alguns exageros naturais neste ambiente “Tarantino encontra 5 mulheres no faroest”…

A francesa Anlor proporciona-nos algumas pranchas espetaculares com uma dinâmica de ação fantástica e com cores e perspetivas variadas e eficazes. Variação… essa é aqui a palavra-chave. Não há um momento de paragem, a possibilidade de ficarmos aborrecidos. O sobressalto narrativo é constante. O texto de Olivier Bocquet é eficaz, violento e divertido, e com diálogos mordazes de qualidade. A gestão do suspense é muito boa, e a nossa atenção é permanentemente “capturada”.

Há uma passagem de diálogo entre dois caçadores de prémios que se encontram e em que ambos se tentam convencer de que não estão ali por razão nenhuma em particular, que ocupa uma página, e que é ao mesmo tempo angustiante porque mostra que, dado o valor do prémio, “os abutres vão convergir”, e divertido pela falta de jeito das duas personagens e incapacidade de serem convincentes. 

As aventuras do nosso gang feminino, unidas por objetivos de sobrevivência e por reação à forma como cada uma delas foi maltratada, perseguida e injustiçada, não se terminam por aqui, garantia de, pelo menos, mais um tomo 3 editado pela Dargaud. Único senão que tenho a apontar, mas que em nada belisca a experiência de leitura: a capa. Não a acho bem conseguida nem na cor nem na composição, embora tenha a vantagem de, num relance de olhar, ficarmos conscientes do nível de gravidez de uma das personagens…


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