quinta-feira, 25 de maio de 2023

A opinião de Miguel Cruz sobre: "Qui est ce Schtroumpf?", de Tebo e "Nous n’Irons pas à Paisley Park", de Kotlarek e Jef

 



Qui est ce Schtroumpf?

À semelhança do que tem vindo a acontecer com outras séries, como sejam Spirou e Fantásio ou Lucky Luke, ou mais recentemente Thorgal, para citar apenas três exemplos, também à mundialmente famosa série dos Schtroumpfs, criada por Peyo, chegou a moda dos tomos “…visto por”. Ou seja, não se trata de um tomo da série dos Schtroumpfs (que continua a ser publicada, depois de assumida por outros autores após a morte de Peyo), mas sim de um álbum de homenagem (e de prova de vida do universo respetivo), com os “schtroumpfs vistos por” neste caso Tebo. 

Tebo é um autor que conheci por causa de uma outra sua série denominada Raowl, uma série de contos de fadas humorista e “animalesca”. O seu desenho humorista juvenil é engraçado, agradável e expressivo, privilegiando o movimento e a ação.

Na aldeia dos Schtroumpfs (ou Estrumpfes ou Smufs…) surge, ou mais corretamente aterra, um novo Schtroumpf. Como sabemos, com maiores ou menores peripécias, os nossos pequenos seres azuis são capazes de acolher e bem receber novas personagens. Só que desta vez confrontam-se com um problema difícil de ultrapassar: é que o recém-chegado não schtroumpfra schtroumpf. Ou seja, não consegue falar a linguagem Schtroumpf, tão característica das suas aventuras.

A juntar ao problema da língua, temos uma constatação de perda de memória. Os diálogos são absurdos e engraçados e as situações criadas pela presença deste novo Schtroumpf são divertidas e disparatadas. 

O comentário de (tradução minha do francês) “Se eu schtroumpfo nesta expedição, é para estudar o teu cérebro. Como diz o Grande Schtroumpf, é preciso schtroumpfar quando o schtroumpf ainda está schtroumpf” recebe de resposta “Não percebi nada, mas isso não parece nada interessante”. Estamos falados!

Os pequenos seres azuis que tão bem conhecemos quer da BD quer do cinema, apesar de terem aqui um desenho menos arredondado e “perfeitinho”, mantêm a sua proverbial curiosidade, bem como o receio de um golpe do malvado Gargamel. Tudo farão para descobrir quem é este novo personagem, correndo grandes riscos e colocando-se em situações, como habitualmente, imprevisíveis.

Em Schtroumpfsão, diria que esta é uma homenagem engraçada, inteligente e bem estruturada, para quem é conhecedor do universo dos Schtroumpfs, ou pelo menos reconhece as suas referências essenciais. Não será a BD do ano, mas permite um bom momento de descontraída leitura. Editado pela Lombard.





Nous n’Irons pas à Paisley Park

A inclusão de Paisley Park no título de “Nós não iremos a Paisley Park” constitui uma referência direta e imediata a Prince. E se havia dúvidas, a capa com a imagem do ídolo e também do seu famoso carro elimina-as automaticamente. E, no entanto, não se trata, (apesar de estar na moda), de uma biografia de Prince.

Paisly Park é o nome dos famosos estúdios de Minneapolis onde Prince compunha e gravava a sua música. E é disso que esta BD trata: um colecionador francês convence dois seus clientes a se deslocarem aos Estados Unidos, após a morte do artista, para arranjar forma de aceder a uma gravação inédita de Prince com Miles Davis, guardada no “the vault”, cofre forte onde ficaram muitas gravações inéditas de Prince e que têm, entretanto, vindo a ser editadas.

Se os autores nos apresentam uma ideia verdadeiramente louca como premissa de partida, a verdade é que todo o álbum é absolutamente delirante. Discussão bem estruturada sobre a importância artística de Prince, um conjunto de anedotas sobre a vida e carreira do artista, pistas deixadas por personagens célebres, como Snoop Dog, aventuras decorrentes de choque cultural França-EUA, esta BD é uma amálgama estranhíssima de acontecimentos, surpresas e encontros, na busca de uma forma de acesso ao cofre e à gravação.

Uma BD estapafúrdia, mas excelente e difícil de não ler de uma única tirada, apesar das mais de 100 páginas, uma verdadeira homenagem à história do Funk, e uma enorme vénia ao grande artista anteriormente conhecido como Prince. Divertido. Muito divertido e agradável. Mas atenção, a história não tem outro objetivo que não seja a homenagem a Prince de uma forma não convencional…
Os desenhos são muito expressivos, muito angulosos, nem sempre simétricos, mas de qualidade, fazendo lembrar um pouco o desenho de Alfonso Font. As páginas aparecem como claras, bem legíveis e estruturadas de forma a alimentar uma cadência contínua de novos acontecimentos.

O argumento é do Francês Thomas Kotlarek, e o desenho é do também francês Jef, bem conhecido, em particular pelas obras que realizou com o nosso bem conhecido Matz. A editora é a 21g – Destins d’Histoire, uma pequena editora que se especializa nos relatos históricos ou sobre personagens relevantes da história.





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