domingo, 17 de abril de 2022

Especial 25 anos! - O testemunho do Miguel Coelho


Miguel Coelho é um grande amigo, daqueles que fazem parte da família que vamos escolhendo ao longo da vida. É também ele o criador do JuveBÊDÊ e este texto é o seu testemunho sobre os 25 anos deste projecto. Um profundo conhecedor da Banda Desenhada, tem, nos últimos anos, comissariado exposições no Amadora BD, como foi o caso da exposição sobre a série XIII, de William Vance (na primeira foto, com a viúva e o filho do autor) e, mais recentemente, a exposição dedicada ao herói Michel Vaillant (2021). Obrigado Miguel!

E claro que não podíamos deixar de publicar uns tesourinhos do Miguel (numa foto com Carlos Cunha, noutra com o autor Gilles Chaillet e a mais recente, de Dezembro de 2021, na Comic Con, durante o painel com Ralph Meyer).


JuveBÊDÊ: os primeiros 25 anos!

Dizer que 25 anos passaram num instante é coisa pouca, quando recordo com muito carinho todo o processo que levou ao aparecimento do JuveBÊDÊ, em Abril do já longínquo ano de 1997!

Antes disso, em 1996, houve dois acontecimentos decisivos para o seu aparecimento.

Um, foi a celebração do controverso "centenário da Banda Desenhada", que tomou em conta apenas a primeira vez em que, com The Yellow Kid, surgiu o balão de fala, nos EUA em 1896, como se esse facto fosse o único sinal definidor do que deve ser entendido como Banda Desenhada.

Para além do nosso Rafael Bordalo Pinheiro ter publicado BD antes dessa data, muitos outros autores, de diferentes geografias, também o fizeram, sendo consensual designar como verdadeiro pioneiro o suíço Rodolph Topfer, que produziu e editou BD mais de 60 anos antes de 1896, e que teve no seu amigo Goethe um dos primeiros leitores / críticos da Nona Arte.

Dois, há um nome que foi decisivo no processo inicial desta publicação, David Lopes, então Presidente da Direcção da Associação Juvemedia que, naquela época, vivia e trabalhava em Braga, tal como eu, e que me desafiou a apostar num projecto ao nível da Banda Desenhada, garantindo o apoio e pondo-me em contacto com o mundo dos designers, dos fotolitos (o que já mudou nesta área...) e das gráficas.

Os primeiros três números do JuveBÊDÊ surgiram como suplemento, de 4 páginas a cores, do Juvernal, o então Boletim da Associação Juvemedia.

No Outono desse mesmo ano a dinâmica era já imensa, com o alargar de páginas e de colaboradores, tanto no agora Boletim de Banda Desenhada da Associação Juvemedia, como também nas páginas do jornal Fórum Estudante, suplemento do Correio da Manhã, publicado à terça-feira, inicialmente com meia página de 15 em 15 dias (Junho de 1997) e pouco tempo depois com uma página semanal.

Numa dessas edições em jornal chegamos a ter duas páginas e meia!

E como recordo o modo genuinamente apaixonado como cada momento era vivido e cada conquista era celebrada, apesar dos 360 quilómetros de distância que nos uniam, cheios de carolice.

De facto, a colaboração alargada com o Carlos Cunha e a Alexandra Sousa levaram o projecto rapidamente para outro patamar.

Em paralelo, surgiram as oportunidades de visitarmos diferentes certames e exposições de BD e Cartoon, desde 1997, tanto em Portugal (Amadora, Lisboa, Porto, Santo Tirso, Beja, Coimbra, Sintra, Vila Franca de Xira...) como no estrangeiro (Angoulême, Barcelona, Madrid...).

Do que recolhíamos in loco e das nossas leituras, tudo era reportado aos leitores.

Há, ainda, a registar diversos eventos paralelos organizados ou co-organizados pela própria Associação Juvemedia em torno da BD (Braga Desenhada, a Volta à Gália, exposições, sessões de apresentação de livros, palestras, entrevistas, participação em concursos, visitas a escolas, um espaço numa rádio local, colaboração com outras publicações...). Mas muito mais importante do que falar da época da fundação desta muito respeitável publicação, é recordar a sua notável resiliência e contínua expansão, fruto da dedicação da Alexandra Sousa e do Carlos Cunha, sempre com o propósito de divulgar a BD e o Cartoon, sempre sem remuneração, quase sempre sem distinção, tirando o Prémio Zé Pacóvio e Grilinho para o Melhor Fanzine, atribuído pelo Festival Internacional de BD da Amadora, em 1998. A seguir à minha saída da direção da publicação, motivada por questões profissionais, em finais de 2000, o projeto continuou a todo o gás e, anos mais tarde, foi dado o salto para o blog, e, mais recentemente, para as redes sociais.

Mas o melhor fica sempre para o fim, como a cobertura do bolo de arroz. Uma grande Admiração, Estima e Amizade pela Xanoca e pelo Carlos. E por todos com quem me tenho cruzado nas lides da Banda Desenhada!

Com especial saudade para os muito estimados e talentosos Lino, Magalhães, ETC, Cotrim, Vance, Chailet e Benoit, que partiram cedo de mais, com tanto que ainda havia para fazer, contar e celebrar. Que venham os próximos 25 anos!

E que estejamos todos juntos para os celebrar.

Miguel Coelho




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