Fica aqui já a primeira leitura e opinião de Miguel Cruz sobre o novo tomo 29 da série Blake e Mortimer - "Oito Horas em Berlim".
A edição de um novo episódio de Blake e Mortimer é sempre um acontecimento notável no mundo da BD. Este episódio, desenhado por Antoine Aubin, com cores de Laurence Croix, e com argumento de José-Louis Bocquet e Jean-Luc Fromental (todos bem experientes e conhecidos), tem como interessante característica ter demorado cerca de 7 anos a ver a luz do dia. A ideia subjacente à narrativa surgiu em 2014, e o desenhador, fiel ao labor perfeccionista de Edgar Pierre Jacobs, dedicou vários anos da sua vida a completar as 62 pranchas que constituem esta BD.
O mínimo que se pode dizer é que esta foi uma aposta ganha. Na minha opinião, este é um dos melhores tomos da era pós-Jacobs. Os desenhos são linha clara na perfeição jacobsiana, muito detalhe, ótimo movimento, personagens muito bem conseguidas, desde Mortimer a Olrik, passando pelas novas personagens. Olrik em particular, é notável em termos de presença! Blake e Mortimer aparecem ao longo das páginas com variações interessantes e bem conseguidas de indumentária. A época é cuidadosamente retratada, com particular destaque para as viaturas. Tudo é agradável, e as cores são um “tour de force” de fidelidade ao autor original, mas também de caracterização de época.
Trata-se de uma narrativa de espiões, com pés bem assentes na história da segunda metade do século XX, com uma pitada de fantástico. Estamos em 1963, e uma escavação arqueológica nos urais “descobre” sete caixões que contêm cadáveres a quem a pele do rosto foi “arrancada”. Em simultâneo um homem que atravessa o muro de Berlin é abatido e pronuncia, no seu último suspiro, a palavra “Doppelgänger”. A ligação entre estes dois acontecimentos encontra-se, vimos a descobrir, em Julius Kranz, um cirurgião especialista em manipulação “electro-cerebral”.
Pode parecer um certo "déjà vu" em relação a outros tomos que abordavam certas derivas da ciência (os sarcófagos, ou a manipulação das vontades) mas, no entanto, apesar de serem usados alguns temas tradicionais a Blake e Mortimer, a narrativa é muito interessante, consistente e credível, e diferente do que já tivemos oportunidade de ler.
Da Editora Blake et Mortimer na edição francófona, esta BD foi colocada à venda com várias versões: Uma versão normal, uma versão bibliófila (10 mil exemplares), e uma edição a preto e branco, ao mesmo tempo que foi editado um DVD com um documentário sobre a série. Em Portugal, e na mesma data da versão em francês, esta BD foi objeto de publicação pela ASA com duas capas, uma delas num exclusivo FNAC. Boa leitura!
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