Esta BD - O (In)feliz Pacto de George Walden - de André Morgado e de Rodolfo Oliveira foi, na minha opinião, uma das boas surpresas da edição deste ano do festival do Amadora BD.
Desde logo, por ter tido direito a uma exposição interessante e atrativa, que aguçou o apetite para o álbum, e para a presença dos autores durante o primeiro fim de semana (juntos, uma vez que o desenhador Rodolfo Oliveira não esteve presente no segundo fim de semana).
Lida a BD, o primeiro comentário tem de ser, tão simplesmente, de que cumpriu a promessa da exposição. Valeu a pena a compra. O desenho é elegante e expressivo, atrativo, as cores são bem aplicadas, e os enquadramentos são variados, e bem trabalhados.
Trata-se de uma história interessante, plena de reflexões (nada chatas, ok?) sobre aspetos relevantes da condição humana (e das relações sociais), curiosa e um pouco estranha, mas que nos cativa.
George Walden é uma pessoa desprovida de grande imaginação, pouco hábil socialmente e, particularmente, bastante negativo na forma como aborda tudo e todos. Importa notar que tem algumas razões para encarar a vida de uma forma pouco positiva: fez um pacto com o diabo, baseado num negócio de “captura” de ideias alheias, seu “cultivo”, sua classificação, e respetiva venda.
Homem com alguns pruridos e alguma consciência, recusa-se a negociar determinado tipo de ideias, com o consequente impacto que tal tem no seu negócio – e nas suas perspetivas de vida – pois há, infelizmente, algumas ideias que se vendem melhor do que outras.
Acomodado à sua situação, e sem perspetivas de futuro, George resiste com todas as suas forças a tudo o que implique qualquer novidade, ou a alguém que se tente aproximar um pouco mais. No entanto…surpresa. Nem tudo é controlável, e uma figura feminina entra na vida desta desanimada personagem. Penélope é divertida e animada, mantendo-se fortemente dedicada a transformar a vida de George, apesar de o passado deste, de que vamos conhecendo pequenos trechos, revelar ter aspetos pouco agradáveis…
Penélope altera significativamente a vontade de viver de George, e a sua forma diferente de olhar para a realidade permite até descobrir a solução para um enigma lançado pelo diabo. Mas atenção, Penélope esconde também os seus segredos. Nem tudo corre sobre rodas neste encontro de personagens relatado ao longo de 5 capítulos, mas o amor acontece, e com o amor vem o sacrifício.
Editado pela "A Seita", com duas capas alternativas, uma delas limitada a 100 exemplares, a leitura recomenda-se, e é muito agradável e luminosa.
Miguel Cruz
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