Concluímos a nossa leitura de "Como Antes", de Alfred (edição da Devir) ainda antes de nos termos cruzado com o autor na edição do Amadora BD deste ano. Porém, com tantas novidades editoriais, só agora publicamos a nossa opinião.
"Como Antes" é um daqueles livros que se lê de seguida, pois é tão cinematográfico, que depressa queremos saber qual o desfecho da história. E a verdade é que este livro presta homenagem ao cinema italiano do pós-guerra, com uma história em forma de road movie.
Não foi por acaso que esta obra de Alfred foi vencedora do Prémio Melhor Álbum no Festival de Angoulême de 2014 (a obra é de 2013).
Trata-se de uma história comovente de dois irmãos, que embora com argumento distinto, nos fez lembrar a novela gráfica "Dois irmãos", da autoria de Fábio Moon e Gabriel Bá, adaptada do romance de Milton Hatoum.
Recordamos que este "Como Antes" leva-nos a França de 1959. Após a morte do pai, dois irmãos Fábio e Giovanni, cruzam as estradas ao volante de um Fiat 500. Durante a viagem, os dois discutem, falam consigo próprios, desfiam as queixas que enterraram durante o tempo passado longe. Mas de alguma forma, os encontros que têm, a tranquilidade do que os rodeia, parece apaziguá-los e interferir na própria história como uma entidade calorosa e envolvente. É um regresso à pátria, à família, mas também ao interior de cada um deles, à sua essência e razão de ser como irmãos.
A história é comovente, a maior parte das vezes angustiante e triste, mas por vezes com momentos divertidos, quando o amor entre irmãos fala mais alto do que a vida que os distanciou. A viagem que ambos empreendem, inicialmente dura e violenta, não é apenas uma viagem num Fiat 500 a cair de podre e que os leva a passar por muitas peripécias, mas principalmente uma viagem íntima, ao interior de cada dos irmãos e que aos poucos vai acalmando as relações familiares difíceis que os levou por caminhos de vida diferentes.
O livro é muito bonito, com uma mudança de cores dependendo da parte da história, com cores mais fortes e escuras em momentos mais duros e cores mais suaves e alegres conforme a amargura se vai dissipando. Ainda os flashbacks com um esquema de cores muito próprio que facilmente se identifica.
Apenas um senão: as margens interiores do livro quase não existem, o que faz o leitor perca a apreciação de cada prancha em todo o seu esplendor.
Se ainda não leram, espreitem aqui este vídeo que tem desenhos do livro.
Publicamos aqui ainda uma fotografia que tirámos no Amadora BD e o autógrafo que teve a amabilidade de desenhar.
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